Notícias da Semana

Notícias Anteriores

Eventos
Setembro
Outubro
Novembro

Dezembro


Divulgue
seu evento


 

Aterro sanitário sai na frente no mercado de créditos de carbono

No dia 15 de setembro, a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio lançaram na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro o Banco de Projetos, para organizar negociações futuras de crédito de carbono no Mercado Brasileiro de Redução de Emissões. Iniciativas como essa já existem em bolsas como a de Joanesburgo, na África do Sul, mas é inédita na América Latina. A bolsa carioca ainda precisa submeter a regulamentação das operações à Comissão de Valores Mobiliários do Banco Central para negociar créditos de carbono no pregão, mas os investidores internacionais já podem manifestar interesse de compra entre os projetos de redução de gases do efeito estufa. O primeiro a entrar no Banco de Projetos é o do aterro sanitário Anaconda, situado em Santa Isabel, na região metropolitana de São Paulo.

Com pouco mais de cinco anos em operação, o aterro sanitário Anaconda tem uma área total de 42 alqueires, dos quais 20 são usados como depósito de lixo, que recebe em média 419 toneladas de dejetos por dia. A decomposição do lixo depositado produz um biogás que tem o metano (CH4) em sua composição. “Nos moldes do Protocolo de Quioto, o metano é considerado 21 vezes mais nocivo que o carbono, no que se refere ao efeito estufa”, afirma o engenheiro Nino Sergio Bottini, diretor técnico da Araúna Participações e Investimentos, empresa voltada para o meio ambiente. A Araúna é responsável pela concepção do Projeto de Gás do Aterro Anaconda, validado pela Det Norske Veritas, instituição norueguesa credenciada pela Califirnonian Climate Action Registry, dos Estados Unidos e pela UK Emissions Trading Scheme, do Reino Unido.

De acordo com o Inventário Nacional de Emissões de Gás de Efeito Estufa realizado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) antes da concepção do projeto Anaconda, o Brasil tem mais de seis mil depósitos de lixo, que recebem acima de 60 mil toneladas de lixo por dia. Esse levantamento aponta que 84% das emissões de metano no país resultam de lixo expostos em depósitos sem controle e 76% do lixo produzido no Brasil vai para depósitos que não realizam captura de gás nem controle ou tratamento de águas subterrâneas próximas aos depósitos.

A atual legislação brasileira, embora não obrigue a queima do biogás, exige o uso de drenos de gás nos aterros sanitários. “São tubos providos de orifícios que vão do fundo do aterro até sua superfície, de forma que parte do biogás gerado (aproximadamente 20%) seja drenado do interior do aterro para a superfície”, explica Bottini. “O biogás drenado é liberado na atmosfera, e para evitar os odores e algum risco de explosão, queima-se o biogás na boca dos drenos”, completa. O projeto Anaconda, programado para iniciar em janeiro de 2006, prevê investimentos nos sistemas de captura de gás que irão enclausurar as bocas dos drenos e dirigir o biogás para um incinerador através de uma rede de tubos, após a sua sucção por meio de compressores.

Drenos do aterro Anaconda. Crédito: divulgação.

Esse processo tem por objetivo otimizar a decomposição do lixo e elevar a eficiência na queima do metano, o que contribuirá para aumentar o tempo de vida útil do aterro, que geralmente é de no máximo 20 anos. A primeira etapa do projeto tem duração de sete anos, mas já está prevista uma renovação pelo dobro do tempo, e a Araúna estima que a durabilidade do local se estenda até 2030. “O projeto Anaconda espera, no mínimo, queimar o equivalente a 840.804 toneladas de CO2 equivalentes (tCO2e) até 2012”, avalia o diretor técnico da empresa. A tCO2e é a medida métrica usada para comparar as emissões de vários gases do efeito estufa, com base no potencial de aquecimento global de cada um. O dióxido de carbono equivalente (CO2e) é o resultado da multiplicação das toneladas emitidas de gás do efeito estufa pelo seu potencial de aquecimento global.

O mercado de carbono
O artigo 12 do Protocolo de Quioto, que passou a vigorar em fevereiro deste ano, propõe como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo que cada tonelada de CO2 equivalente (tCO2e) que deixar de ser emitida ou for retirada da atmosfera por um país em desenvolvimento, como o Brasil, poderá ser negociada no mercado mundial através da venda de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs), validadas por uma Entidade Operacional Designada reconhecida pela ONU. Essas RCEs poderão ser adquiridas por empresas de países desenvolvidos que não conseguirem ou não desejarem reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, mas apenas uma parcela dos compromissos de redução pode ser abatida pelo uso desses certificados.

A estimativa da cotação média das RCEs é de US$ 5 por tonelada de CO2 equivalente, o que proporcionaria à Araúna uma arrecadação de cerca de US$ 4,2 milhões nos primeiros sete anos do projeto Anaconda, ou o equivalente a mais de R$ 1,3 milhão por ano até 2012. Mas para o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões, esse valor ainda é especulativo. “Quanto será arrecadado é função de uma condição de mercado que ainda não temos como avaliar com razoável precisão”, diz Bottini. O projeto prevê a doação de 2% do valor arrecadado com a venda de RCEs para atividades das comunidades próximas ao aterro. “Os projetos que beneficiarão as comunidades serão discutidos com o poder público e as associações locais, de forma a atender parte de suas reais necessidades”, conclui.

Estados Unidos
Apesar de o governo de George W. Bush ter se negado a assinar o Protocolo de Quioto, alegando que as metas impostas de redução de emissões de gases do efeito estufa comprometeriam a economia do país, um movimento encabeçado por prefeitos de grandes cidades dos Estados Unidos atua na mobilização para o cumprimento e até mesmo a superação dessas metas. Mesmo não sendo um consenso entre os pesquisadores, trabalha-se com a hipótese de que os atuais acidentes naturais sofridos pelo país (os furacões Katrina e Rita) sejam decorrentes, em parte, das mudanças climáticas causadas pelo efeito estufa.

 

Atualizado em 26/09/05
http://www.comciencia.br
contato@comciencia.br

© 2001
SBPC/Labjor

Brasil