Alto
custo de produção emperra o desenvolvimento de energia
do sol
A
utilização de fontes renováveis de energia
(solar, eólica, biomassa e hidrelétricas de pequeno
porte) tem sido discutida desde a Eco 92. Em 1994, a energia solar
ganhou apoio dos Ministérios de Ciência e Tecnologia
(MCT) e de Minas e Energia (MME), que estabeleceram diretrizes
para disseminar a energia solar e eólica, como a formação
de centros de pesquisa e a definição de investimentos
formalizada pela Declaração de Belo Horizonte. Regiões
remotas do País, do litoral nordestino do Rio Grande do
Norte ao Pará, foram priorizadas para aplicação
da energia solar, especialmente a fotovoltaica (que transforma
a energia solar em elétrica). Mas existe também
a possibilidade de transformar a luz solar em energia térmica.
Apesar
desses esforços, o professor da Faculdade de Engenharia
Química (FEQ) da Unicamp, Julio Bartoli, explica que a
luz solar ainda não é utilizada em larga escala
no Brasil pelo alto custo de instalações e pouca
eficiência dos sistemas de conversão de energia.
Ele desenvolve pesquisas para melhorias de um coletor solar de
baixo custo para aquecimento de água, projeto que teve
auxílio da Fapesp no estudo da viabilidade técnico-econômica.
Um dos principais elementos para baratear o gasto é o material
da placa coletora, feita de PVC (policloreto de vinila), composto
termoplástico para sacos de lixo, bolsas de sangue e até
forro do teto de casas.
A
equipe de Bartoli construiu um coletor com 10% do valor de um
convencional, cujo preço está na faixa de R$3 mil.
O público consumidor imaginado por ele é a população
de baixa renda, que tem como principal gasto o chuveiro elétrico
na conta de luz. As placas de PVC foram adaptadas dos forros da
parte interna de casas. Elas são ocas e têm espessura
de 10 mm, por onde a água passa e seaquece. O efeito termo-sifão
(convecção) movimenta o líquido na placa
coletora, sem a necessidade de intervenção, ou seja,
sem a utilização de bombas de água. Na caixa
d'água, a água quente é menos densa e fica
na parte superior e a fria na parte inferior.
Para
controlar a temperatura da água nos dias mais frios, pode-se
usar um sistema solar-elétrico, isto é um chuveiro
com regulador de temperatura pode ser instalado. Bartoli fez alguns
estudos preliminares nos protótipos e encontrou a eficiência
térmica não muito menor dos coletores convencionais
(com tubos de cobre ou alumínio). A temperatura da água
pode alcançar 50 graus, mas há certos inconvenientes,
como um dia sem sol, que obriga o uso de outra fonte energética
e os banhos, que devem ser mais curtos. Mas a economia na conta
é significativa. Para se ter uma idéia, o aquecimento
de água representa 25% da conta de luz na classe média.
Além disso, o sol é uma fonte energética
limpa e o PVC pode ser reciclado.
Bartoli
também pretende desenvolver coletores com materiais plásticos
reforçados para alcançar temperaturas de 70 graus
inclusive para uso na indústria. Neste caso, o uso de uma
cobertura transparente para produzir o efeito estufa, como nos
coletores convencionais, permitiria aquecer a água com
maior eficiência. Os próximos estudos serão
realizados em um protótipo instalado, em agosto, na casa
de caridade Bom Pastor em Campinas (SP).
Outras
experiências
No exterior, Alemanha e Espanha têm programas de tarifa
especial para a eletricidade de origem fotovoltaica. O primeiro
criou uma indústria própria para atender a sua demanda
interna. E, na Espanha, houve uma ação conjunta
de universidades, centros de pesquisa e empresas, que desenvolveram
novos materiais e conceitos, modificando, por exemplo, placas
de silício para melhorar a captação da luz
do sol.
Já
no Brasil, depois da Declaração de Belo Horizonte,
centros de pesquisa, como o Centro de Referência em Energia
Solar e Eólica (CRESESB), iniciaram pesquisas e o governo
investiu em programas de eletrificação rural, com
o intuito de facilitar o acesso à energia em regiões
isoladas. Também o calor do sol para aquecer água
se difunde principalmente na região sul e sudeste. De acordo
com a Associação Brasileira de Refrigeração,
Ar Condicionado e Aquecimento, (Abrava), existiam, em 2002, cerca
de 250 mil coletores solares residenciais.