Publicado
consenso para diagnóstico e tratamento de Alzheimer no
Brasil
A Academia Brasileira de Neurologia (ABN) acaba de publicar as
recomendações consensuais para o diagnóstico,
exames complementares e avaliação cognitiva e funcional
da doença que será tema de debates em todo o mundo
hoje, 21, data instituída pela ONU como o Dia Mundial do
Alzheimer. O consenso, desenvolvido pelo Departamento Científico
de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN, foi publicado
em dois artigos
na revista científica Arquivos de Neuro-psiquiatria
deste mês. O objetivo principal do trabalho é
padronizar as condutas para o diagnóstico clínico
da doença no Brasil, a fim de otimizar a relação
possível entre o tempo de avaliação e definição
correta do problema.
“A importância do consenso é
que todos os médicos envolvidos - neurologistas, psiquiatras,
clínicos, geriatras - passam a falar a mesma língua,
usar os mesmos procedimentos diagnósticos e terapêuticos,
acumulando assim experiências em nível nacional”,
aponta Benito Damasceno, professor e pesquisador do Departamento
de Neurologia da Unicamp, que participou do desenvolvimento desta
publicação.
O consenso segue o princípio de que o diagnóstico
de Alzheimer pode ser feito, na maioria das vezes, por meio do
exame médico, com a exclusão de outras possibilidades
de doenças detectadas em exames complementares, e que estes
exames devem ser de aplicação simples e breve. “A
simplificação consiste, primeiro, em constatar os
déficits da memória e mais alguma outra função
cognitiva por meio de uma entrevista e de um mini-teste cognitivo;
além disso, a possibilidade de outras doenças pode
ser afastada por meio de exames de laboratório (dosagem
de vitamina B12, ácido fólico, hormônio da
tireóide e tíreo-estimulante, exame de sífilis,
etc.)”, descreve Damasceno. O pesquisador ressalta ainda
que a simplificação e abreviação dos
exames não comprometem a qualidade do resultado final.
“O consenso e sua difusão vão exatamente ajudar
a educar mais médicos em condutas relativamente simples,
menos dispendiosas, evitando os inúmeros exames desnecessários”,
afirma.
Considerar as particularidades do Brasil foi um
dos pontos primordiais para iniciar a pesquisa. Diversos países
já publicaram recomendações semelhantes,
que freqüentemente são seguidas pelos especialistas
brasileiros. A aplicação desses consensos é,
porém, limitada pelas dificuldades do sistema de saúde
nacional e pelas especificidades culturais, sociais e econômicas
da população. Devido às condições
básicas de saúde dos brasileiros, alguns exames
laboratoriais podem ser mais ou menos úteis para o diagnóstico
diferencial. Além disso, as circunstâncias do atendimento
médico ainda são bem distantes das existentes nos
países ricos, de modo que o tempo de avaliação
e os custos dos procedimentos também devem ser levados
em conta.
Doença
sem cura
O mal de Alzheimer é a mais freqüente doença
neurodegenerativa e a causa mais comum de demência, afetando
cerca de 5% das pessoas em torno de 65 anos. Essa porcentagem
aumenta para até cerca de 45% nos grupos acima dos 90 anos.
Há ainda registros de casos em jovens, geralmente relacionados
a um componente genético. Estima-se que existam 18 milhões
de pessoas afetadas pela doença no mundo. No Brasil, esse
número chega a 1,2 milhão.
Provocada pela morte de células cerebrais,
a doença leva a uma atrofia do cérebro e à
formação de cicatrizes em forma de estruturas microscópicas
chamadas “placas senis”. Na medida em que as células
morrem e são formadas as placas senis, a capacidade cerebral
decai progressivamente até o estado de demência,
ou seja, ao comprometimento cognitivo, deterioração
da personalidade e perda da memória. O diagnóstico
é feito com base na exclusão de outras causas de
demência pela história do paciente (depressão,
perda de memória associada à idade), por exames
de sangue (para detectar hipotireoidismo e deficiência de
vitamina B, por exemplo), tomografia ou ressonância (múltiplos
infartos, hidrocefalia) entre outros exames.
Os sintomas começam com os pequenos esquecimentos,
que vão se agravando gradualmente. A pessoa torna-se confusa,
algumas vezes agressiva, passa a apresentar alteração
da personalidade, com distúrbios de conduta e termina por
não reconhecer os próprios familiares e nem a si
mesma, quando colocada frente a um espelho. À medida que
a doença evolui, ela se torna cada vez mais dependente
de terceiros. Iniciam-se as dificuldades de locomoção
e comunicação, quando o doente passa a necessitar
de cuidados e supervisão integral, até mesmo para
as atividades elementares do cotidiano como comer, tomar banho,
pentear os cabelos e vestir-se.
A doença não tem cura, mas existem
medicamentos, os anticolinesterasicos, que melhoram os sintomas
e estabilizam a evolução. Os remédios são
distribuídos gratuitamente pelo Programa Medicamentos de
Alto Custo, em todo o Brasil.