Nigéria quer trocar produtos brasileiros, principalmente
álcool, por petróleo
No último dia 15 de agosto, a Petrobras fechou um acordo
com a empresa estatal de exploração de petróleo
da Nigéria, a National Nigerian Petroleum Corporation (NNPC),
para a venda de álcool combustível ao país.
O convênio faz parte de uma série de negociações
entre os dois países, que teve início com a visita
do presidente Lula ao país em abril deste ano. O acordo
entre a Petrobras e a NNPC foi discutido na semana passada, entre
os dias 8 e 9 de agosto, quando o ministro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan,
e mais de 30 empresários brasileiros, se reuniram com membros
do governo nigeriano para discutir oportunidades de negócios.
Para o representante da Associação Brasileira de
Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Artur Albiero, que esteve
presente no encontro, um dos principais pontos da discussão
foi o intercâmbio de petróleo nigeriano por máquinas,
equipamentos e produtos do Brasil, como o álcool.
De
acordo com dados disponibilizados pelo Ministério, o comércio
entre os dois países tem crescido recentemente. A corrente
de comércio (exportação somada com importação)
passou de US$ 769 milhões, em 1997, para US$ 4 bilhões.
Mas o vetor dessa corrente caminha principalmente em um sentido
apenas: a Nigéria representa 4,5% da importação
total brasileira e 0,5% do que o país exporta. Estima-se
que a balança comercial brasileira com a Nigéria
é deficitária em mais de US$ 3 bilhões em
função da importação de petróleo
bruto pela Petrobras - principal produto de exportação
da Nigéria, que representa 20% de seu PIB.
Uma
das idéias do governo brasileiro para reverter a situação
e aumentar a exportação brasileira para a Nigéria
é criar uma linha de financiamento do Programa de Estímulo
às Exportações (Proex), administrada pelo
Banco do Brasil, para estimular as vendas. A idéia é
reter em uma conta bancária parte do pagamento feito pela
Petrobras na compra de petróleo bruto da estatal NNPC e
os recursos seriam liberados somente depois que os exportadores
brasileiros recebessem o pagamento das suas vendas.
Enquanto o Brasil está de olho no petróleo, a Nigéria
se interessa pelo álcool nacional. Em 2004, a produção
de álcool brasileira atingiu 18 bilhões de litros,
sendo 8,8 bilhões para combustível. A expectativa
é que a exportação de álcool para
a aquele país tenha início em 2006. A Petrobras
também prevê o investimento de US$ 1,9 bilhão,
nos próximos quatro anos, na construção e
perfuração de dois poços de petróleo
na Nigéria, nos campos petrolíferos gigantes de
Agbami e Akpo. A participação da empresa nessas
operações acrescentará cerca de 105 mil barris
de óleo diários a sua produção no
exterior - hoje, se produz fora do país aproximadamente
270 mil barris de óleo diários, o que representa
13% do total da companhia.
De acordo com Albiero, da Abimaq, além do álcool
e dos produtos brasileiros, a Nigéria também está
interessada em máquinas e equipamentos já que está
em crescimento econômico. “Há interesse na
tecnologia agrícola brasileira”, afirma. Conforme
mostram os dados Central de Inteligência Internacional (CIA),
a atividade agrícola da Nigéria não conseguiu
acompanhar o rápido crescimento populacional – atualmente
é o país mais populoso da África. Apesar
de 70% da população do país estar empregada
na agricultura, os alimentos ainda estão entre os principais
itens de importação.
Albiero
acredita que as negociações entre os dois países
estão na contrapartida ao atual cenário político
brasileiro fragilizado. “Estamos em uma contramão
positiva”, avaliou. Em 7 de setembro, o presidente da Nigéria,
Olusegun Obasanjo, deve visitar o Brasil para as comemorações
do Dia da Independência.