Em
São Paulo, acidentes rodoviários de produtos perigosos são freqüentes
A
freqüência elevada de acidentes com transporte rodoviário
de produtos perigosos é considerada uma fonte significativa
de riscos ambientais e de riscos à saúde. Somente
em 2004, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb)
- órgão responsável pelo controle da qualidade
ambiental no estado de São Paulo - atendeu a 208 ocorrências
dessa natureza no estado, o que corresponde a uma média
de cerca de um acidente com produtos perigosos a cada dois dias.
O dado consta no “Relatório
de atendimento a acidentes ambientais no transporte rodoviário
de produtos perigosos”, divulgado no último dia 15
pela Cetesb. Entre 1983 e 2004, período contemplado pelo
relatório, acidentes com cargas perigosas em vias urbanas
e estradas de São Paulo representaram os atendimentos emergenciais
mais freqüentes realizados pelo órgão ambiental
(37% do total).
Segundo
o químico Jorge Luiz Nobre Gouveia, gerente do Setor de
Operações de Emergência da Cetesb, a situação
não é exclusividade de São Paulo e decorre
diretamente do modelo de transporte adotado no país. “O
modelo de escoamento da produção nacional que prevalece
no Brasil é o rodoviário. A malha brasileira é
a 2a maior do mundo”, lembra Gouveia. “Em conseqüência
dessa magnitude, há um elevado número de acidentes
com cargas perigosas, que têm gerado danos ao meio ambiente
e ao patrimônio público e privado”.
Entre
os riscos ambientais representados por acidentes rodoviários
com produtos perigosos estão a contaminação
de corpos d’água, solo e vegetação.
Embora os impactos dos acidentes geralmente se restrinjam à
área próxima ao local de ocorrência, há
casos em que os produtos podem chegar até onde é
feita captação de água para abastecimento
público. “Esta é uma conseqüência
indireta, mas mais preocupante. Substâncias tóxicas
podem vazar e atingir mananciais, afetando grande número
de pessoas”, afirma geógrafo Salvador Carpi Júnior,
pesquisador do Instituto de Geociências da Unicamp. Os dados
da Cetesb mostram que líquidos inflamáveis (como
gasolina, óleo diesel e álcool etílico) são
os produtos perigosos mais freqüentes nos acidentes (36%
dos casos), seguidos por corrosivos e gases (22% e 10% do total,
respectivamente). Carpi Júnior acrescenta que além
dos danos ambientais, os acidentes também podem trazer
riscos às pessoas que trafegam pela via e aos moradores
do entorno.
O
relatório da Cetesb aponta como fatores importantes para
a ocorrência de acidentes a conduta dos motoristas e as
condições das estradas. O caso da rodovia Régis
Bittencourt (BR-116), principal via de ligação entre
as regiões Sul e Sudeste, é emblemático.
“A alta incidência de acidentes nessa estrada está
bastante ligada ao seu mau estado de conservação”,
afirma Carpi Júnior. Além da região do Vale
do Ribeira, cortada pela Régis Bittencourt, acidentes com
cargas perigosas são bastante freqüentes nas regiões
de Campinas, Santos e Cubatão. A concentração
de indústrias, em especial do ramo petroquímico,
é responsável por grande tráfego de produtos
perigosos nessas regiões, aumentando os riscos de acidentes.
Segundo o relatório, os acidentes na região de Santos-Cubatão
despertam uma preocupação especial, tendo em vista
a vulnerabilidade dos ecossistemas que a compõe.
Conforme
destaca Gouveia, os dados do relatório da Cetesb devem
ser vistos como uma amostra da realidade paulista, já que
se referem apenas aos acidentes em que o órgão foi
acionado. Por outro lado, o químico ressalva que nem todos
os casos em que a Cetesb atuou envolveram danos ao meio ambiente.
Para Gouveia, “este registro histórico dos acidentes
é muito importante como ferramenta para tomada de decisão”,
pois auxilia na adoção de políticas preventivas
e corretivas de controle dos riscos associados a acidentes rodoviários
com cargas perigosas.
A
sistematização e difusão de informações
sobre os acidentes, toxicologia dos produtos perigosos e procedimentos
de atendimento emergencial estão entre as recomendações
presentes no relatório. Com intuito de suprir a carência
de dados sobre o assunto, a partir do próximo ano, a Cetesb
divulgará um relatório anual sobre o tema.
Veja
pesquisa sobre o tema:
-
Acidentes com motoristas no transporte rodoviário de produtos
perigosos