Fatores
naturais e humanos causam deslizamentos de encostas
Os deslizamentos de terra em encostas e vertentes quentes e úmidas
com ocupação urbana têm se intensificado nos
últimos anos motivando uma ampla investigação
científica como uma das formas de prevenção
de riscos. Ricardo Araki, que desenvolve pesquisa de mestrado
no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, alerta os tomadores
de decisão para que reconheçam a necessidade de
diminuir as ocorrências nos locais afetados por deslizamento
e informar a população que vive em áreas
de risco para que seja removida do local.
Luci Hidalgo Nunes, orientadora da pesquisa, enfatiza
o fato do projeto atualizar dados obtidos anteriormente, prática
que, segundo ela, não é muito freqüente na
área, mas deve ser incentivada. “Em estudos ambientais
feitos em locais onde as transformações são
rápidas e profundas (comuns em nosso país), atualizações
são absolutamente fundamentais, pois a realidade muda muito
rapidamente e por vezes de forma dramática”, afirma.
No primeiro levantamento, Araki avaliou as informações
sobre os deslizamentos de terra no município do Guarujá
(SP), durante os anos de 1965 a 1988. Houve um total de 81 deslizamentos,
número muito inferior aos 518 registrados na década
de 90, fato que pode estar relacionado ao crescimento na ocupação
dos morros, muitas vezes em função da maior oferta
e dos menores preços do mercado imobiliário nestas
áreas. É curioso que, ao contrário do que
se poderia pensar, este crescimento nos deslizamentos se deu apesar
do índice pluviométrico ter diminuído entre
os dois períodos. No entanto, o pesquisador enfatiza que
os meses mais chuvosos (verão) normalmente registram os
maiores números de deslizamentos. “O episódio
mais forte, que induziu 60 deslizamentos em um só dia (19
de fevereiro de 1993) é um indicativo de que as precipitações
convectivas [típicas do verão] teriam causalidade
importante no desenvolvimento de escorregamentos no local”,
explica.
O
problema é social
Além dos esperados dados referentes ao meio físico
(precipitação, características litológicas,
pedológicas), o estudo considera os socioeconômicos
(ocupação, vulnerabilidade dos diferentes grupos
sociais) para melhor avaliar as características e impactos
dos deslizamentos de encosta do município litorâneo.
“O estudo tem forte componente social, pois, em última
instância, visa apontar as áreas mais suscetíveis
a ocorrências de deslizamentos, que tem aumentado enormemente
na área com prejuízos econômicos e muitas
vezes com óbitos”, explica Nunes.
A conjunção de baixa condição
de renda, desarticulação social referente a reivindicação
de direitos essenciais, bem como as limitações dos
setores públicos em tomar medidas preventivas ou corretivas,
na opinião de Araki, faz com que uma parte da população
viva em locais de maior risco a eventos de movimentos de massa
e inundações. “A situação ambiental
no Guarujá é um reflexo do que ocorre em todo o
país, em que a crescente concentração urbana,
realizada de forma pouco planejada, gera grandes conflitos”,
avalia. Dentre os problemas recorrentes nos meios urbanos estão
as inundações, a contaminação de mananciais
superficiais e subterrâneos, a falta de saneamento básico
e de um tratamento correto do lixo.
O conceito de áreas de riscos fundamenta-se na possibilidade
de ocorrência de acidentes que conduzem à perda de
vidas humanas ou de perdas materiais, mas ele é polêmico
entre os estudiosos. Um exemplo disso são as diferentes
denominações que um morro ocupado pode receber:
“área de risco”, quando é ocupado de
maneira desordenada e constituindo favelas, ou “contato
com a natureza”, quando esse mesmo morro é ocupado
por uma mansão ou um hotel de luxo.
O próximo passo do estudo será levantar
a situação de deslizamentos dos últimos anos.
Desta vez, a análise contará com uma mudança
na escala de análise dos volumes de precipitação
- antes mensal ou semanal - para diária, de modo a aumentar
a precisão dos deslizamentos nos locais de risco.