Arma
de fogo é tema crescente de pesquisa
Uma série de pesquisas sobre armas de fogo tem vindo a público no
Brasil desde a entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento no país em
2003. No último mês, por exemplo, pelo menos duas delas resultaram
em publicações de livros sobre o assunto: Brasil: as armas e
as vítimas, oriundo de pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos
da Religião (ISER), e Mortes Matadas por Armas de Fogo no Brasil 1979
- 2003, resultado do estudo da Unesco, feito pelo pesquisador Julio Jacobo
Waiselfisz.
Respectivamente,
as pesquisas revelam que o atual debate está marcado tanto por uma discussão
qualitativa e subjetiva sobre o tema, como quantitativa. A publicação
dos estudos antecede a votação, marcada para essa semana, do projeto
de decreto legislativo que agenda para outubro desse ano a realização
do referendo sobre a proibição da comercialização
de armas de fogo e munições no Brasil.
A
socióloga Patrícia Rivero, que participou da pesquisa do ISER, focalizou
em seu trabalho o significado simbólico que as armas adquirem. Rivero partiu
de uma análise qualitativa realizada com jovens de favelas do Rio de Janeiro,
que tiveram contato com armas, e com 24 policiais militares. Segundo ela, a curiosidade
apresentou-se como principal fator responsável pelo contato dos jovens
com as armas, que segundo eles, estavam associadas às idéias de
"impor medo, respeito e aceitação ao seu domínio, atrair
mulheres e experimentar uma sensação de adrenalina".
A
atração pelas armas de fogo, ainda segunda a pesquisadora, coloca
tais jovens diante de opções como entrar para o tráfico,
para o exército ou polícia, em contraposição à
idéia de aceitar integrar-se a um mercado de trabalho subalterno, "uma
cidadania secundária". Já a relação dos policiais
com as armas vai além da sensação de poder, mas guarda similaridades
com aquela que os jovens estabelecem, aparecendo como fator de proteção,
virilidade, possibilidade de controle, mas também como companheira.
Rivero
destaca os homens como os maiores usuários de armas de fogo e afirma que,
mesmo ainda escassos, os estudos sobre as causas da atração das
armas sobre o universo masculino têm despertado interesse em pesquisadores
em vários países.
Júlio
Jacobo Waiselfisz, por sua vez, centrou-se nos dados sobre armas de fogo, revelando
a ocorrência de 550 mil mortes por armas de fogo, no período entre
1979 e 2003, sendo que as mortes registradas na última década superam
o número de vítimas de vários conflitos armadpos no mundo,
dentre eles o da Guerra do Golfo. Segundo a Unesco, o estudo, que já teve
bastante repercussão na mídia, tem como objetivo contribuir para
o debate, promover a paz e o desarmamento.
Além
dessas pesquisas, existem várias outras em andamento sobre o tema armas
de fogo, e algumas em fase de conclusão, como é o caso de Cotidiano
das escolas: entre violências, também da Unesco.
Veja
também:
-Brasil
registra mais mortes por armas de fogo do que países em guerra
-Homicídio
é a principal causa de morte não natural entre os homens
-Fabricantes
burlam a proibição de produção de armas nos EUA