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Combate da tuberculose requer desenvolvimento de novos fármacos


O artigo científico apresentado na última edição da revista científica Química Nova denominado Fármacos no Combate à Tuberculose: Passado, Presente e Futuro alerta sobre o contínuo crescimento da tuberculose no mundo, salientando a urgente necessidade do desenvolvimento de novos fármacos. Há mais de 40 anos não são produzidas novas drogas no combate à doença. A pesquisa também expõe as dificuldades do tratamento em função da resistência do bacilo da tuberculose aos remédios antigos, ao surgimento da Aids, aos efeitos colaterais e a longa duração do tratamento levando muitas vezes o doente a abandoná-lo. Segundo o estudo 3 milhões de pessoas morrem todo ano infectadas pela Mycobacterium tuberculosis.

De acordo com os autores do estudo, cerca de 1,7 bilhão de indivíduos, ou cerca de 30% da população mundial, estão infectados pelo M. tuberculosis. Nos países pobres a estimativa é que 70% da população esteja infectada, resultando em aproximadamente 2,8 milhões de mortes ao ano. O Brasil está no 13º lugar no ranking dos 22 países que possuem 80% dos casos de tuberculose no mundo. Todo ano surgem no país 111 mil novos casos, com aproximadamente 6 mil mortes sendo o Rio de Janeiro o estado com o maior número de casos.

Informações do Ministério da Saúde revelam que, atualmente, 12% dos pacientes brasileiros com tuberculose abandonam o tratamento - que dura de 6 a 12 meses - o que leva a uma maior resistência da bactéria. Consequentemente, o tratamento fica mais demorado e muito mais caro. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) existem cinco fatores que são fundamentais no tratamento da tuberculose: uma política apropriada, o diagnóstico rápido e com eficácia, o acesso universal a medicamentos gratuitos e, principalmente, a continuidade do tratamento até sua conclusão.

Na opinião de Miguel Hijjar, do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde, as drogas hoje disponíveis para tratar a tuberculose são de certa forma eficazes. O maior problema está relacionado ao extenso período de tratamento da doença e aos efeitos colaterais (como vômitos, perda de equilíbrio, diminuição da audição, podendo levar à cegueira, entre outros), que acabam culminando na interrupção do tratamento que, por sua vez, leva ao crescente surgimento de bacilos resistentes.

Diante deste quadro, os pesquisadores alertam que é preciso buscar novos fármacos capazes de apresentar menores efeitos indesejados, maior eficácia, menor tempo de tratamento e custo reduzido, para combater eficazmente a tuberculose e acabar com a negligência à doença, por se concentrar maciçamente nos países pobres. "Para se ter uma idéia da falta de novos fármacos no combate à tuberculose, desde 1966 não foi desenvolvido nenhum novo fármaco para o tratamento desta doença, ao passo que, com relação a Aids, de 1980 até os dias de hoje foram desenvolvidos 21 novos fármacos", compara.

As pesquisas de novos fármacos no combate a tuberculose se concentram na busca do encurtamento do tempo de tratamento, juntamente com a criação de métodos mais rápidos para se diagnosticar a tuberculose já que, segundo Miguel Hijjar, há casos que não se consegue detectar a doença somente com exame de escarro.

Marcus Vinícius Nora de Souza, químico da Fiocruz e um dos autores do artigo, o "governo brasileiro tem feito sua parte no combate à tuberculose, tanto no que diz respeito a assistência médica e hospitalar, quanto na divulgação do problema pelos meios de comunicação". Porém ele acredita que a ação governamental pode melhorar, através de um acompanhamento semanal do paciente por médicos e assistentes, o que diminuiria muito o abandono ao tratamento. No que tange a medidas a longo prazo, Souza sugere a criação de programas especiais de investimentos incentivando pesquisadores a trabalharem nesta área. Apesar de existirem diversos grupos de pesquisa envolvidos com a doença no Brasil, Souza reconhece que "a pesquisa é praticamente inexistente, sendo uma área carente de pesquisadores", o que reflete na carência de novos fármacos.

Dentre as drogas mais promissoras para o tratamento da tuberculose, informa Souza, são a Linezolida e Moxifloxacina, já utilizadas em outros tipos de infecções bacterianas, e que deverão ser utilizadas em breve. Falta ainda, lamenta o pesquisador, que as multinacionais farmacêuticas, hoje voltadas, sobretudo, para o tratamento das lucrativas doenças crônicas - como a depressão, impotência, obesidade - voltem seus olhares para doenças negligenciadas e altamente disseminadas como a tuberculose.

Tuberculose e Aids

Do século XVIII ao XX a tuberculose foi a principal causa de morte no Ocidente, mas, a partir da década de 1950 com o uso de antibióticos, o índice de cura chegou a 95%. Porém, o aparente controle da doença foi abandonado com o aparecimento da Aids na década de 1980, que colocou a tuberculose na lista das principais doenças infecto contagiosas. Isso porque a vírus da Aids fragiliza o sistema imune dos seus portadores dando espaço para que doenças oportunistas, como a tuberculose, se desenvolvam e sejam novamente disseminadas.

Atualizado em 29/07/05
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