Seminários
sobre socialismo na atualidade ganham versão impressa
Em tempos em que a chamada hegemonia capitalista é colocada
como fato consumado e irreversível e os tradicionais partidos
de esquerda mostram uma política ortodoxa, há quem
ainda discuta a possibilidade e vantagens da construção
de uma agenda necessária para o socialismo no século
XXI. Em 2001, foi realizada uma série de seminários
na cidade de São Paulo com a presença de intelectuais
brasileiros que são expoentes nas discussões sobre
o socialismo no Brasil. Os interessados nesta discussão,
mas que não tiveram a chance de participar do ciclo de
seminários, já podem encontrar a reprodução
de alguns dos debates publicada pela Editora Fundação
Perseu Abramo, na coleção Socialismo em Discussão.
O
último livro da coleção, Socialismo
no Século XXI, com previsão de chegar às
livrarias ainda no segundo semestre desse ano, faz um retrospecto
sobre o socialismo no século XX ligado a acontecimentos
atuais e oferece algumas perspectivas para o futuro do socialismo.
Essa discussão estaria voltando à tona com o que
Juarez Guimarães, cientista político da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), chama de "reentrada do marxismo
no debate contemporâneo sobre democracia".
Segundo
o autor, para reposicionar o marxismo no debate contemporâneo
sobre democracia seria preciso superar o que chama de "interdição
liberal que pesa sobre o marximo" que construiu uma idéia
de impossibilidade de convivência entre marxismo e democracia
e, ao mesmo tempo, estabelece uma relação indispensável
entre liberalismo e democracia. "Se a década de 90
foi marcada pelas respostas à crise do neoliberalismo ainda
no campo do horizonte liberal (as chamadas terceiras vias), o
que se trata hoje é de começar a configurar os fundamentos
de alternativas ao neoliberalismo a partir de valores, dinâmicas
e perspectivas de um socialismo democrático renovado",
afirma Guimarães.
Mesmo
sendo otimistas quanto à possibilidade de sua existência,
os debatedores também discorrem sobre a dificuldade de
construir uma agenda socialista. Como mostra o discurso de Valter
Pomar, doutorando em história econômica pela Universidade
de São Paulo (USP): "É certo que a crise do
capitalismo não faz a luta pelo socialismo entrar na agenda
política espontaneamente. Isso só acontecerá
se houver esforço ideológico, mas principalmente
político, de oferecer o socialismo como alternativa para
humanidade e saída para a crise".
Na
opinião de Pomar, a chance de um novo ciclo de revoluções
socialistas ter um desfecho distinto do ocorrido no século
XX depende, principalmente e novamente, do que vai ocorrer com
os países capitalistas centrais. Seria fundamental entender
porque a onda neoliberal implantou-se em países com um
forte movimento operário. Pomar acredita que o Partido
dos Trabalhadores (PT), atualmente, estaria sendo "vítima
da inércia". "Grande parte da esquerda ainda
se limita a uma postura teórica e ideologicamente defensiva,
a oferecer alternativas semikeynesinas ao neoliberalismo, não
percebendo que a crise do neoliberalismo e a expressão
superficial e visível de uma crise mais profunda da ordem
social capitalista", diz o historiador. As alternativas semikeynesinas
citadas por Pomar se referem à política defendida
pelo economista John Maynard Keynes na década de 1930,
que defendia o aquecimento da economia através de incremento
de gastos públicos.
Além
das idéias de Guimarães e Pomar, o livro também
trás a transcrição da fala de Marco Aurélio
Garcia, assessor especial de política externa da presidência
da república e professor licenciado da Unicamp, e de pessoas
que estiveram presentes durante o seminário em São
Paulo em outubro de 2001.