São
Francisco e TV digital aquecem
o clima de Fortaleza
Duas conferências abriram hoje um clima quente de debates
na 57ª SBPC, em Fortaleza: a transposição do
rio São Francisco e a continuidade do projeto de pesquisa
do Sistema Brasileiro de TV Digital, mais conhecido pela sigla
SBTVD. No primeiro caso, a questão de gerenciamento das
bacias que abastecem o Nordeste Setentrional, na discussão
com os oponentes ao projeto governamental esteve-se bem perto
de partir para agressões mais
contundentes que as verbais. O ministro Ciro Gomes mostrou que
é um legítimo representante do estereótipo
do "cabra macho nordestino". Enfrentou com invejável
coragem uma platéia bem formada e com facções
de oposição bastante organizadas. Expôs com
clareza sua posição, recheada de números
e disposição política para o debate, e ressaltou
que o processo de discussão do tema tomou mais de dois
anos de seu governo, o que possibilitou ouvir os mais diferentes
segmentos sociais e propostas.
Ciro
Gomes afirmou ter realizado 18 das 29 audiências públicas
previstas (as demais foram impedidas por mandados de segurança),
e espera abrir as propostas da licitação no próximo
dia 28, com as melhores ofertas possíveis. Afinal, diz
ele que 120 editais foram comprados por interessados em participar
dessa concorrência. Reagiu com veemência a uma interferência
da platéia, sugerindo que a concorrência está
marcada, garantindo que a lisura do processo foi respeitada e
conclamando a quem tivesse provas de que isso não ocorria,
apresentasse a ele antes do dia previsto para a abertura da concorrência.
O ministro assinalou que incluiu sugestões dos comitês
em alterações importantes nesse processo, como aceitar
fixar a vazão de 26 metros cúbicos por segundo e,
somente se Sobradinho verter, esse índice poderá
expandir a vazão para até 40 metros cúbicos/segundo,
sem prejuízo do abastecimento humano de água.
Ciro
Gomes ressaltou que o projeto de transposição não
é novidade nem no Brasil nem no exterior. Citou o nível
de transposição de outras bacias, como a do Paraíba
do Sul (RJ), com 63%; o do Piracicaba (78%) e o São Francisco,
num projeto que considera mais seguro, só atingiria 1,45%.
Os casos internacionais citados foram o do Tejo que, na Espanha
chega a 60% e do Colorado - mais de 90% - entre EUA e México.
Considera que o benefício do projeto para uma população
de 12 milhões de habitantes mais pobres justifica o empenho,
que colocou o São Francisco na centralidade das preocupações
do país. "Está no epicentro da agenda política",
comemora.
TV
digital
Já
o debate sobre o sistema de TV digital a ser adotado no Brasil,
que envolve 72 grupos universitários e 34 grupos industriais
no país, embora mais técnico motivou Augusto Gadelha,
integrante do Comitê Gestor e do Ministério das Comunicações
a uma declaração enfática: o novo ministro
garantiu e pediu para que fosse esclarecido ao público
da SBPC que todas as pesquisas na área continuam e que
a questão da inclusão digital é assunto fundamental
de qualquer governo na atualidade.
Gadelha
está seguro da continuidade de todos os projetos e que
os trabalhos que envolvem 555 estudantes em todo o país,
com R$ 39 milhões das verbas já alocadas para a
pesquisa das universidades, levará às conclusões
importantes que o governo precisa ter, até 10 de fevereiro,
para tomar suas decisões políticas a respeito do
tema.
Existem
hoje no país, 22 consórcios de pesquisa avaliando
todas as características de qualidade, compatibilidade
e flexibilidade dos meios digitais existentes. Segundo Marcelo
Zuffo, do Laboratório de Sistemas Integráveis da
Escola Politécnica da USP, pelo menos cinco universidades
brasileiras têm propostas de chips para desenvolvimento
da TV digital.
Essa
capacitação deverá permitir que as decisões
governamentais sobre o novo padrão, previstas para ocorreram
no início do próximo ano, contemple a solução
mais racional para a especificidade brasileira, em termos de território
continental, acesso da população a bens de consumo
e atenda o impulso no desenvolvimento industrial que essa opção
poderá representar, diz Gadelha.
Leia
mais:
Transposição
do São Francisco na edição Rios, da revista
ComCiência
Entrevista
em que Ciro Gomes fala sobre a transposição