Grande
mídia boicota conferência sobre questões raciais
A invisibilidade das questões raciais e étnicas
ainda é uma característica da mídia brasileira
e a sua demonstração mais recente foi o modo como
a Primeira Conferência Nacional de Políticas de Promoção
da Igualdade Racial, realizada em Brasília, entre os 30
junho e 02 de julho, foi ignorada pela grande imprensa. A avaliação
é de Dojival Vieira, jornalista da agência de notícias
Afropress e um dos participantes do evento organizado pela Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (Seppir),
que contou com 1150 representantes da sociedade civil, 150 observadores
internacionais e delegações oficiais de países
latino-americanos, do Caribe e da África, para discutir
políticas públicas de combate ao racismo e às
desigualdades.
A
proposta da Conferência foi reunir negros, indígenas,
ciganos, árabes, palestinos e judeus, ou seja, grupos que
historicamente sofrem com o racismo, a discriminação
e o preconceito, e promover uma discussão conjunta desses
grupos e suas organizações políticas com
o Estado. Para tanto, a Conferência Nacional foi antecedida
por um longo processo de preparação. Foram realizadas
audiências públicas e conferências municipais,
estaduais e regionais para que as delegações, representativas
dos movimentos sociais locais e organizações não-governamentais,
fossem eleitas.
Durante
a Conferência de Brasília, as delegações,
juntamente com representantes do poder público, foram divididas
em grupos para tratar de temas como educação, saúde,
remanescentes de quilombos, direitos humanos e segurança
pública, religiões de matriz africana, trabalho
e desenvolvimento econômico, dentre outros assuntos, com
o objetivo de elaborar propostas e diretrizes de políticas
públicas para constarem no Plano Nacional de Promoção
da Igualdade Racial.
A abordagem da mídia sobre a temática étnica
e racial e a participação de profissionais negros
nos meios de comunicação de massa foi o tema de
um dos grupos de trabalho da Conferência, que reuniu personalidades
e instituições que realizam trabalhos importantes
no ínterim do que se poderia denominar como mídia
étnica e anti-racista: o rapper Big Richard, colunista
do site da Central Única das Favelas (Cufa),
Marcio Alexandre, editor da revista Afirma, Flávio Carrança
da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira),
dentre outros profissionais preocupados em dar visibilidade às
questões raciais e étnicas e discutir relações
de trabalho mais igualitárias no mercado da comunicação.
"Precisamos trabalhar em duas frentes: furar o bloqueio da
invisibilidade que caracteriza o apartheid da mídia
comercial e construir e fortalecer os nossos próprios meios
de comunicação", afirma Dojival Vieira.
O
documento elaborado pelo grupo e apresentado na plenária
final da Conferência, está disponível no site
da Afropress,
fundada, em 2004, pela organização não-governamental
ABC Sem Racismo.
Branqueamento
versus diversidade na TV
Durante a Conferência Nacional de Políticas de Promoção
da Igualdade Racial foi anunciado que, no próximo dia 20
de novembro (Dia
da Consciência Negra), será lançada a
TV da Gente, um canal aberto de televisão idealizado pelo
rapper Mano Brown, do grupo Racionais Mcs, e o empresário,
cantor e apresentador de TV José de Paula Neto, conhecido
como Netinho. Resultado de uma parceria com o Banco Angolano de
Investimentos, o orçamento inicial do projeto é
de 9 milhões de reais e o canal, a princípio, só
poderá ser assistido nas cidades de Fortaleza, São
Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.
A
emissora pretende colocar no ar 18 horas de programação
diária que não será voltada exclusivamente
para negros. Segundo Netinho, a emissora será dirigida
por negros e não para negros e deverá privilegiar
a diversidade característica da sociedade brasileira.