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Relatório alerta para expansão da epidemia da Aids entre muçulmanos


Em quase 25 anos de epidemia, a Aids atingiu os quatro cantos do mundo e mostrou que não importa o quão diferentes sejam as culturas e seus preceitos comportamentais, ninguém está imune a ela. No meio acadêmico, uma das informações mais divulgadas era de que a prática da circuncisão masculina, amplamente praticada entre os muçulmanos, diminuiria severamente as chances de infecção do HIV. Relatório publicado por Laura Kelley e Nicholas Eberstadt do National Bureau of Asian Research, no entanto, alerta para que medidas drásticas sejam tomadas pelos governantes de países muçulmanos para tentar conter a epidemia da Aids que se alastra em meio a uma população que supera um bilhão de pessoas.

“A circuncisão masculina deve ser seriamente considerada como um meio adicional de prevenção ao HIV em todos os países com alta prevalência de infecção”, afirma Robert Szabo da Faculdade de Medicina da Universidade de Melbourne, da Austrália, em artigo. Sua afirmação, compartilhada por outros cientistas, somado a aparente inexistência de sexo antes do casamento, adultério, prostituição, homossexualidade e uso de drogas intravenosas na comunidade muçulmana, por serem condenados no Alcorão, podem ter tranqüilizado os povos muçulmanos em relação à Aids, eximindo-os de qualquer responsabilidade e contribuindo para sua disseminação.

Kelley, no entanto, acredita que a questão da circuncisão não é importante na hora de explicar a baixa incidência de infecção pelo HIV no mundo muçulmano. “Uma de nossas principais conclusões é que as baixas prevalências registradas por muitos países muçulmanos são, na realidade, subestimadas”, diz a autora do artigo, reforçando que a baixa incidência não é necessariamente indicativa de um pequeno problema de saúde, mas é mais provável que seja a resposta da falta de testes e levantamentos epidemiológicos.

Com exceção do Irã e de Bangladesh, a Aids têm sido um assunto negligenciado nos governos. Entre as principais razões que justificam a lenta resposta à disseminação da doença, opinam os autores, está à negação do problema pelas autoridades competentes e a falta de esforços organizacionais voltados ao controle da infecção, que seriam o resultado da falta de uma tradição democrática que garanta os direitos dos soro-positivos e também a forte convicção religiosa que parece acreditar ser suficiente para conter comportamentos de risco.

“É impossível descrever com precisão a magnitude do problema da Aids na expansão islâmica”, lamentam os autores da pesquisa. Dados oficiais do Programa de HIV/Aids das Nações Unidas (Unaids), que seriam subestimados, dão conta que existem cerca de um milhão de pessoas infectadas no Norte da África, Oriente Médio e a Ásia muçulmana.

Á exemplo do Irã, os cientistas sugerem o engajamento de líderes religiosos tanto para esclarece a população sobre os riscos da infecção do HIV quanto para conscientizá-la a lidar com os soro-positivos, dando-lhes maior dignidade. Admitir que o problema existe é o primeiro passo.

A Circuncisão

Pesquisas estimam que homens circuncisados são 2 a 8 vezes menos propensos a serem infectados por doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids. Isso porque a superfície interna do prepúcio (pele que cobre a glande do pênis) é removida e, junto com ela, as células de Langerhans que atuam como receptores do HIV – um ponto provável de entrada dos homens não-circuncisados.

 

Atualizado em 14/07/05
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