Política
ambiental deve ter planejamento integrado
Quando o assunto é meio ambiente, dificilmente alguém
discorda de que atualmente existe uma crise ambiental que atinge
todo o planeta. Alguns pesquisadores, no entanto, ressaltam que
as discussões sobre meio ambiente, legitimadas pela mídia,
não atingem o âmago da questão, pois o problema
ambiental envolve uma complexa densidade de conflitos e valores
éticos e sócio-culturais. Entre esses pesquisadores
está Roberta Graf, que defendeu no último dia 23
a tese Política Ambiental Transversal: Experiências
na Amazônia Brasileira, pelo Departamento de Política
Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de
Geociências da Unicamp.
O
trabalho de Graf traz dois estudos de caso sobre as políticas
ambientais recentes dos estados amazônicos, cujas prioridades
ambientais em seus programas podem representar iniciativas de
transversalidade: o Acre, como o principal estudo, e o Amapá,
como um estudo complementar.
As
experiências trazidas do trabalho de campo realizado no
Acre mostram que os programas centrais desse governo do estado,
que tem como lema "O governo da floresta", têm
sido satisfatórios se comparados com os governos anteriores.
Porém, como avalia José Augusto Valadares Pádua,
doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário
de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e integrante da banca
que avaliou a tese de Graf, não se pode perder a visão
crítica. "A política ambiental, tanto no Acre
como no Amapá, são pouco estudadas e parece que
têm sido boas experiências de políticas ambientais
transversais". A chamada "política transversal"
é aquela que tem uma perspectiva integrada com os outros
setores de formulação e execução de
políticas públicas, ou seja, deixa de ter um caráter
unicamente setorial (como acontece com as políticas energética,
de planejamento, econômica e industrial).
Florestania
O conceito de "florestania" foi implementado pelo governo
do Acre para fazer um paralelo com o conceito de cidadania e,
assim, tentar resgatar a idéia dos direitos e deveres do
cidadão da floresta. Graf chama a atenção
para a informalidade do conceito, já que não existe
nenhuma definição oficial. "Equivale mais ou
menos à intenção de gerar políticas
que incentivem a permanência destas pessoas no meio rural
com vida digna, fixar o homem na floresta, para que não
haja êxodo rural", exemplifica Graf. Um exemplo é
o projeto dos Centros de Florestania, que são construções
na mata providas de uma série de infra-estruturas para
trabalhos educativos, reuniões comunitárias, assim
como uma base para que funcionários do governo trabalhem
junto às comunidades em planejamentos locais participativos
de políticas e projetos produtivos, de saúde, educação
etc.
Apesar
dos avanços na política ambiental do Acre, o estado
apresenta um investimento 12,3% menor em Ciência e Tecnologia
do que no Amapá. No que se refere à taxa de desmatamento,
o Acre apresenta um crescimento de 12%, ao passo que o Amapá
tem 2%. As principais causas de desmatamento no estado do Acre
e seu estado vizinho, Rondônia, é a pecuária.
A cultura da soja uma das principais vilãs do desmatamento
do bioma Amazônia ainda não chegou ao Acre, revela
Graf, mas nos estados de Mato Grosso, Rondônia, Pará
e Tocantins tem causado grandes prejuízos ao meio ambiente.
"No Acre, o desmate, a queima e a pecuária estão
cada vez mais presentes na vida dos colonos ou pequenos produtores.
Faltam políticas educacionais e de alternativas produtivas
ambientalmente sustentáveis para este público. A
pecuária consiste em grande ameaça ambiental no
Acre", analisa.
Graf
ressaltou ainda que o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) utiliza
empréstimos do Banco Mundial, o que revela uma dependência
externa para que o estado possa cumprir o seu papel. Nesse sentido
a pesquisadora questiona se a internacionalização
da Amazônia é um processo futuro, ou um evento que
já está presente na região.