Especialistas
pedem providências para frear pandemia da Aids em expansão
A epidemia da Aids completará 25 anos em 2006, e, apesar
de já ter se tornado uma doença crônica para
os portadores do HIV que têm acesso ao tratamento no mundo,
que não chegam a um milhão, a doença não
para de crescer. Apenas no ano passado foram 5 milhões
de novas infecções, maior número registrado
na história da Aids. Autoridades, pesquisadores e sociedade
civil, reunidos na 3ª Conferência da Sociedade Internacional
de Aids (IAS) sobre Patogênese e Tratamento do HIV/Aids,
no Rio de Janeiro, que termina hoje (27), alertam que é
preciso tomar providências urgentes para brecar a disseminação
do vírus.
O fato é que cerca de 20 milhões de pessoas já
morreram em decorrência da doença desde que ela foi
diagnosticada em 1981, e, atualmente, existem cerca de 38 milhões
de soropositivos. Segundo Luiz Loures, diretor das Iniciativas
Globais do Programa de HIV/Aids das Nações Unidas
(Unaids), os investimentos para conter a Aids nunca foram tão
grandes: em 1996 eram US$ 300 milhões e hoje estima-se
que esse número chegue a US$ 7 bilhões. "A
implementação dos recursos não é suficiente",
alertou o diretor, "falta um debate mais aberto sobre a Aids
no mundo. As posições em relação à
doença ainda são muito preconceituosas, o que tem
contribuído para o crescimento da doença".
Ele lembra que, embora os programas de prevenção
da Aids tem custo menor do que os recursos disponíveis
para o tratamento, eles esbarram em barreiras muito mais fortes,
por exemplo, o preconceito com os grupos considerados de risco,
como os homossexuais, os profissionais do sexo e os usuários
de drogas.
Outro
aspecto para o qual Loures chama atenção é
a globalização, definitiva, da Aids. Nações
que até a década de 90 não apareciam no mapa
da epidemia sofrem agora com uma explosão de casos de infecção
do HIV. Entre eles estão os populosos Índia e China,
a Rússia, a Nigéria, países do leste europeu,
além de nações muçulmanas (leia notícia).
Apesar disso, persistem duas imagens, a de que a Aids está
longinquamente concentrada em países africanos, afastando
o medo da contaminação de algumas populações,
e a de que os tratamentos disponíveis diminuíram
a ameaça, o que leva a população em geral
a baixar a guarda.
Apesar
da ampla divulgação sobre a doença na mídia
e de muitos esforços governamentais, a Aids cresce enormemente
entre jovens (15 a 24 anos), mulheres e usuários de drogas,
para os quais não existem, em muitos países, programas
de distribuição gratuita de seringas. "A chave
[para o combate da Aids] é envolvermos os setores da sociedade
- porque a Aids não é apenas uma questão
da medicina - trazer a igreja, as escolas, as famílias
para dialogar", enfatiza Loures, que participa da Conferência
no Rio.
Para
Peter Piot, diretor mundial do programa Conjunto das Nações
Unidas sobre HIV/Aids, o sucesso da resposta à epidemia
depende da integração entre a ação
e o planejamento. "Enquanto executamos ações
de emergência para garantir acesso universal à prevenção
e ao tratamento do vírus da imunodeficiência humana,
devemos conseguir soluções a longo prazo, como uma
vacina e microbicidas", declarou. Embora pesquisas e testes
com vacinas candidatas estejam se multiplicando em todo o mundo,
nenhuma foi bem sucedida nos testes clínicos para prevenir
a doença ou impedir a entrada do HIV nas células.
Ou seja, a prevenção ainda é a principal
forma de deter a disseminação da Aids, somada aos
tratamentos dos soropositivos, que garante uma diminuição
na quantidade de vírus e, assim, contribui para reduzir
as chances de sua disseminação.
Brasil
Durante o evento, o Programa de Combate à Aids brasileiro
foi bastante elogiado. O diretor da Unaids acredita que a combinação
do compromisso político brasileiro (feito de forma precoce),
a disponibilização do orçamento reservado
para combater a doença (cuja contribuição
principal vem do Tesouro Nacional) e o envolvimento da sociedade
civil facilitaram um diálogo mais aberto em relação
à Aids no país. O resultado disso é que hoje
o Brasil é considerado uma referência mundial de
combate à Aids, detendo o maior número de pessoas
com acesso ao tratamento de anti-retrovirais, devendo atingir
170 mil pessoas.