Pesquisador
alerta sobre a necessidade
de preservação da caatinga
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Fonte:Ministério
do Meio Ambiente |
A
caatinga tem uma variedade vegetal maior do que a mata atlântica.
A afirmação, estranha para quem acredita que a caatinga
é uma cobertura seca, foi feita pelo pesquisador Everardo
Valadares Sampaio, da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
De acordo com Sampaio, a caatinga possui um bioma rico, mas pouco
conhecido, inclusive pela comunidade científica, o que
pode contribuir para a sua devastação. "Fala-se
muito na Amazônia, mas a caatinga também precisa
ser preservada", alertou o pesquisador em sua conferência
que aconteceu hoje durante o 57º encontro da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC), em Fortaleza.
De
acordo com Sampaio, atualmente existe pouco interesse global sobre
a preservação da caatinga, já que quando
se fala em captação de gás carbônico
é comum se pensar em grandes florestas. Por conta disso,
"os recursos para preservação e pesquisa acabam
se concentrando apenas na Amazônia", afirmou. De qualquer
modo, é preciso lembrar que a caatinga absorve de 20 a
50 toneladas de carbono por hectare enquanto a Amazônia
absorve cerca de cinco vezes mais. Além dos interesses
globais, Sampaio reforçou ainda os benefícios regionais
com a preservação dessa vegetação,
como a redução da erosão do solo, a possibilidade
de extração de mel e o mato característico
da região onde podem se desenvolver pastos.
De
acordo com a legislação ambiental vigente, é
proibido caçar, fazer queimadas e os proprietários
devem manter pelo menos 20% da cobertura vegetal preservada. Apesar
de a legislação ambiental brasileira ser considerada
uma das melhores do mundo, Sampaio considera que ela não
é boa porque não é cumprida. "Não
há uma aceitação por parte da sociedade",
lamentou. O pesquisador acredita que é preciso aumentar
a fiscalização para fortalecer a legislação:
"Existem poucos fiscais no Ibama [Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis]. Se um
fazendeiro fizer uma queimada, ninguém fica sabendo".
Outro
ponto destacado na conferência foi a necessidade de aumentar
as áreas de preservação ambiental do Nordeste,
que concentra o menor número delas em comparação
com as demais regiões do país. O destaque nordestino
é o Parque Nacional da Serra da Capivara que, além
da mata, reúne o maior número de pinturas rupestres
em sítios arqueológicos do mundo e tem enfrentado
sérios problemas financeiros (leia
mais). "O uso público dessas áreas é
muito limitado. As pessoas deveriam ser estimuladas a visitar
essas regiões para conhecer mais sobre a vegetação
do Nordeste", afirmou Sampaio. À necessidade de um
número maior de áreas de preservação,
somam-se as dificuldades de acesso às áreas já
existentes devido à falta de estradas e de infra-estrutura
básica.
Além da dificuldade dos turistas de chegarem às
áreas de preservação, os pesquisadores também
enfrentam obstáculos. Conforme contou Sampaio, a coleta
de amostras na caatinga é problemática por causa
da burocracia, o que dificulta o mapeamento da vegetação
da região: "Eu não posso retirar um quilo de
folha seca legalmente, mas vejo caminhões com madeira ilegal
saindo da caatinga e ninguém fala nada". Além
disso, as informações já existentes também
não são facilmente divulgadas: "O INPE [Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais] possui um enorme acervo de imagens
da cobertura da caatinga, mas para usá-las é preciso
pagar", exemplificou.
O pesquisador enfatizou a necessidade de políticas de preservação
que, por exemplo, incentivem os proprietários locais. Uma
sugestão de Sampaio é a redução ou
isenção de impostos nas regiões preservadas
ou o oferecimento de benefícios, como a construção
de cisternas. "Os fazendeiros ficam confusos, pois se mantêm
a mata intocada temem que suas terras sejam desapropriadas por
improdutividade", comentou. Ainda há esperanças?
"Sim, pois como dizia Euclides da Cunha, a vegetação
do Nordeste é forte demais para ter resistido tanto tempo",
concluiu.
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