Microsoft
usa o Brasil para testar computador
que, sem pagamento, trava
No Brasil, tudo começou com os telefones celulares. Interessadas em aumentar
seus lucros e resolver seus problemas com os consumidores inadimplentes, as novas
empresas privadas de telefonia instituíram o serviço pré-pago,
em que o consumidor paga primeiro pelo serviço e se utiliza dele depois,
em um prazo determinado. Logo a coisa se expandiu para o consumo de água:
a Sanetins, empresa de saneamento do estado do Tocantins - de economia mista controlada
por capital privado-, desenvolve, desde o ano passado, um sistema de fornecimento
pré-pago em que o consumidor só consegue encher sua caixa d'água
depois de inserir um cartão eletrônico. Agora a vez é da informática.
A Microsoft e o Magazine Luiza estão testando, no Brasil, um computador
pré-pago.
A
idéia, na verdade, é uma combinação de venda à
prazo com aluguel. Por um computador que custa, por exemplo, R$ 2 mil, o consumidor
paga, à vista, R$ 600. O saldo restante é transformado em créditos
que deverão ser adquiridos ao longo do tempo. Sem a inserção
de novos créditos o sistema fica travado. Depois que o consumidor pagar
por uma quantidade de créditos equivalente ao valor total a máquina
fica liberada para o uso.
De
acordo com informações divulgadas pela imprensa, até agora
o Magazine Luiza já vendeu 400 desses computadores. A quantia a ser paga
à vista varia de 600 a 1390 reais. O consumidor que pagou menos à
vista paga mais caro por hora de uso de "sua" máquina, quantia
que pode chegar a R$ 3. O produto ainda não está disponível
a todos os consumidores. A loja enviou uma carta-convite a uma lista de clientes
cadastrados e que tivessem um certo perfil sócio-econômico oferecendo
o produto.
O
programa está em fase de testes exclusivamente no Brasil, mas deverá
ser lançado mundialmente em data ainda não definida. O computador
está sendo produzido pela Solectron, empresa transnacional que monta computadores
para que companhias como a IBM e a HP vendam com suas marcas. No desenvolvimento
do produto, estão envolvidos executivos e técnicos da matriz norte-americana
da Microsoft. A empresa não informa se o bloqueio ao uso para o consumidor
que não adquire novos créditos será feito por meio do sistema
operacional ou via hardware. Como a fase ainda é de testes, a Microsoft
diz que nada está definido.
Computadores ou geladeiras?
Se
o sistema de bloqueio estiver no sistema operacional e a máquina for como
as tradicionais isso significa que o usuário poderia apagar o sistema,
instalar um novo e usar o computador mesmo sem inserir novos créditos.
A assessoria de imprensa da Microsoft diz que, como o produto não é
voltado para usuários experientes, não espera que ele seja burlado
facilmente.
Ao mesmo tempo, um bloqueio pelo hardware significaria um
passo decisivo da empresa em direção do que tem sido chamado de
"trusted computing". O Trusted Computing Plataform Allience (TCPA)
é um consórcio que reúne empresas como a Micrtosoft, Intel,
IBM, HP e AMD. O objetivo declarado da iniciativa é oferecer computadores
pessoais mais seguros para o meio do uso de peças especificadas. Isso significa
uma maior integração entre hardware e software, de modo que alterações
possam ser controladas pelas empresas produtoras. O computador, ao invés
de ser um produto modular, integrado por partes avulsas, se tornaria mais parecido
com um eletrodoméstico comum.
Na
prática, a iniciativa significa um bloqueio à liberdade do usuário
em alterar o software. Os críticos afirmam que, com esse tipo de tecnologia,
os consumidores perdem o controle sobre os aplicativos e sobre as informações
que entram e saem de suas máquinas. Uma das características da "trusted
computing" é o envio para as empresas produtoras, pela rede, de informações
sobre os softwares utilizados. Isso se constituiria em violação
de privacidade.
No
Brasil, pela lei, a venda casada de software e hardware é proibida. Ao
comprar seu computador, o consumidor teria o direito de pedir que ele viesse sem
nenhum sistema operacional instalado, tendo direito a um desconto no preço
final. No entanto, a lei não é respeitada e as grandes lojas negam-se
a fazer abatimentos no preço e a vender máquinas sem sistema operacional.