Proposta
dos EUA de fiscalização da democracia é negada pela América
Latina
A proposta dos EUA de criar um comitê especial de fiscalização
das condições democráticas dos países membros da Organização
dos Estados Americanos (OEA) para combater os mecanismos que vão contra
o desenvolvimento e manutenção da democracia, foi vista com maus
olhos pela maior parte dos países latino-americanos. A proposta foi apresentada
na 35º Assembléia Geral da OEA, que terminou na semana passada. Os
países da América Latina acreditam que a proposta representa uma
ameaça à soberania de seus respectivos países devido à
grande influência que os Estados Unidos exercem na OEA.
De
acordo com o posicionamento dos EUA, os governos inicialmente escolhidos democraticamente
que não mantiverem os padrões de uma democracia deveriam assumir
sua responsabilidade perante a OEA. Tanto o país norte-americano quanto
o novo secretário geral da OEA, o chileno José Miguel Insulza, que
tomou posse em 26 de maio, alegam que os países americanos "precisam
de democracias fortes para seguirem fortes" e, assim, atingir um desenvolvimento
econômico desejável.
O
documento aprovado, que demorou horas para ser feito, atrasando
o fim da reunião até a madrugada do dia seguinte
(08 de junho), deixou de fora a proposta norte-americana e os
princípios de não intervenção e de
auto-determinação dos países foram respeitados.
Segundo o professor e pesquisador do Instituto de Relações
Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Alcides
Costa Vaz, a intenção dos EUA era intervir nos países
americanos por meio da OEA, um canal legitimatório com
alcance mais coletivo. De acordo com o pesquisador, se a proposta
fosse aceita, um grande cenário de instabilidade e imprevisibilidade
se instalaria na OEA e conseqüentemente, nas relações
internacionais.
Para
Vaz, o interesse pela estabilidade democrática não é somente
interno (de cada país), mas mundial. "Não se pode reduzir o
discurso norte-americano a um simples discurso de fachada, de ocasião.
Existe uma preocupação por parte dos norte-americanos, que é
compartilhada também pelo Brasil e por outros países latinos",
afirma Vaz. No entanto, a imposição da democracia é um equivoco,
já que se trata de um produto de um processo histórico.
Para
o pesquisador, esse processo aumentaria a dependência em
relação a outros países. Além disso,
o principio de intervenção na manutenção
e propagação da democracia ameaçaria a soberania
de cada país. "A resposta dos outros países
a uma crise da democracia em seu vizinho não deve se basear
numa ingerência não consentida. Os países
podem criar um papel de mediação, articulação
entre as partes, mas sem ferir a soberania do país",
conclui.