Inpa
promove evento para fortalecer
lingüística indígena no
Amazonas
Das 130 línguas atualmente em uso na região amazônica,
66 são faladas no estado do Amazonas. Apesar de muitas
delas estarem ameaçadas de extinção, essa
é a unidade da federação com a menor concentração
de pesquisas em lingüística indígena do país.
Com o objetivo de fortalecer essa área, o Núcleo
de Pesquisas em Ciências Humanas e Sociais do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) realizou em Manaus
o I Encontro de Lingüística Indígena e Culturas
Amazônicas, entre os dias 16 e 20 de maio.
Entre as principais finalidades do evento estavam a realização
de um intercâmbio de conhecimento entre as instituições
que pesquisam línguas e culturas indígenas e a consolidação
de parcerias interinstitucionais para o desenvolvimento de projetos
de pesquisa em comum. Além de centros de estudos linguísticos
que já têm parceria com o Inpa - como a Universidade
Federal do Amazonas (Ufam) e o Museu Paraense Emílio Goeldi,
com o qual a instituição amazonense desenvolve um
projeto para documentação de línguas indígenas
em extinção e aspectos culturais de povos indígenas
do Pará e do Amazonas -, o evento também contou
com a participação de pesquisadores da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e do Museu Nacional, ligado
à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além
de representantes das Secretarias de Educação do
Município de Manaus e do Estado do Amazonas.
O
coordenador da área de Lingüística do Museu Paraense Emílio
Goeldi, Denny Moore, responsável por um projeto de documentação
de cinco línguas amazônicas da família Tupi financiado pelo
Programa de Documentação de Línguas Ameaçadas,
ligado à Universidade de Londres, na Inglaterra, falou em sua palestra
sobre a pré-história das línguas indígenas brasileiras.
Moore abordou os deslocamentos geográficos dos povos de diversas etnias
como um dos principais mecanismos de mudanças lingüísticas,
provocadas pelo contato com outras línguas. Ribamar Bessa, do Programa
de Estudos de Povos Indígenas da Faculdade de Educação da
UERJ, falou sobre a literatura oral dos Tapuia na Amazônia, enfatizando
os registros sobre elas feitos no século XIX. Também foram abordados
no encontro estudos sobre as línguas mawé, waimiri atroari, hixkaryana
e wanano e o resgate de conhecimentos das culturas amazônicas.
Ao
final do evento, os pesquisadores elaboraram documentos com diretrizes para nortear
ações de pesquisa e políticas públicas na área
de documentação de línguas e culturas indígenas dos
povos da Amazônia. Entre as diretrizes políticas estão o apoio
à formação dos próprios indígenas em Lingüística,
além do fortalecimento e ampliação das linhas de apoio a
projetos na área pelas instituições estatais de fomento e
da divulgação em museus das línguas e culturas documentadas.
No documento, os pesquisadores ressaltam que não se pode dissociar a questão
lingüística e cultural de questões sociais e políticas
que envolvem o contexto no qual estão inseridos os povos indígenas
de hoje.
As
diretrizes acadêmicas estabelecidas no encontro envolvem a capacitação
de bolsistas para o estudo de línguas e culturas indígenas, a criação
de um laboratório lingüístico no Inpa (com ferramentas para
captura de som e imagem e softwares para análise e armazenagem de dados
lingüísticos) e a criação e disseminação
de acervo bibliográfico e audiovisual - para ser consultado em pesquisas
científicas, além de funcionar como mecanismo de preservação
do patrimônio lingüístico e cultural da região. A meta
é compartilhar o material de documentação com as instituições
reunidas no evento. "O objetivo é que o Encontro se torne anual e
faça parte do calendário de eventos da área de lingüística
e antropologia", afirma Deuzanira dos Santos, uma das organizadoras.