Fertilidade
masculina fica comprometida com substância presente na soja
Lynn Fraser, pesquisadora de Biologia Reprodutiva do King´s College, em
Londres, sugere que mulheres que tenham interesse em engravidar devem evitar alimentos
contendo soja. Isso porque a genisteína, substância presente em leguminosas
como a soja, age de forma semelhante ao estrógeno (hormônio feminino),
e tende a reduzir a fertilidade masculina, como indicaram testes realizados em
espermatozóides de humanos. A combinação dessa substância
com outras, como as contidas na cevada e em produtos de limpeza (quando inaladas),
presentes no cotidiano, também podem causar o mesmo efeito, pelo menos
em camundongos. “Uma vez que essas substâncias químicas têm
ação efetiva em concentrações muito baixas e as combinações
dos compostos são ainda mais potentes, esses resultados podem ter importantes
implicações negativas para a fertilidade humana”, afirma.
A equipe
liderada por Fraser investigou os efeitos sobre a capacitação do
espermatozóide, isto é, a aquisição da habilidade
para fertilizar um óvulo, sob combinações de três substâncias:
a 8-frenilnaringenina, encontrada na cevada; o nonilfenol, presente em tintas,
herbicidas, pesticidas, produtos de limpeza e produtos usados na fabricação
de papel e tecidos; e, por último, a genisteína, à qual se
atribui parte das propriedades anticancerígenas da soja ? contra o câncer
de próstata e de mama. Essas substâncias são denominadas estrógenos
ambientais, e seus mecanismos de ação no organismo ainda não
foram totalmente elucidados. No caso da genisteína e do nonilfenol, os
pesquisadores descobriram que ambos estimulam a produção da molécula
AMP cíclico. Trata-se de uma espécie de mensageiro interno da célula,
chamado de ‘segundo mensageiro’, que transmite a informação
contida num primeiro mensageiro, como o estrógeno, comprovando que essas
substâncias agem como hormônios.
A
pesquisa, anunciada durante o 21o Congresso Anual da Sociedade Européia
de Reprodução e Embriologia Humana, concluiu que a genisteína,
em doses ínfimas, e a combinação com as outras substâncias,
são capazes de fazer o espermatozóide ‘perder a cabeça’,
isto é, estimulam a reação em que a ponta (acrossomo) do
gameta masculino se rompe liberando as enzimas que dissolvem o envoltório
do óvulo, mas isso ocorre antes da fecundação.
“Observamos
que combinações de pequenas quantidades desses três estrógenos
ambientais estimularam muito mais o espermatozóide do que quando eles são
usados individualmente”, conta Fraser. E, em relação à
genisteína, os espermatozóides humanos se mostraram mais sensíveis
que os do camundongo, respondendo a concentrações equivalentes às
que são encontradas, por exemplo, na corrente sangüínea humana.
A reação é tal que eles continuam vivos e não perdem
a capacidade de locomoção, no entanto, deixam de ser capazes de
fertilizar o óvulo.
Antes
que as mulheres, ao menos as interessados em ter filhos, declarem guerra à
soja, à cerveja e a produtos de limpeza, porém, é preciso
que outros estudos que esclareçam sobre a relação desses
compostos com a fertilidade humana. De acordo com a coordenadora da pesquisa,
muito pouco se sabe sobre o controle da função do espermatozóide,
sobretudo no organismo (in vivo), e não em laboratório,
mas os resultados de sua equipe apontam para a necessidade de novos estudos que
esclareçam sobre a relação desses compostos com a fertilidade
humana. “Outros cientistas têm investigado o impacto negativo de substâncias
sobre o funcionamento do testículo que resultam na redução
do número de espermatozóides produzidos”, diz. “Mas,
até onde sei, somos o único grupo observando efeitos sutis que podem
ter um sério impacto sobre a fertilidade sem afetar o número de
espermatozóides”, conclui.