Farmácias
de manipulação conseguem adiar proposta da Anvisa
A proposta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) para atualização da norma técnica
(RDC33/2000) que regula as práticas de manipulação
de medicamentos para uso humano tem sido alvo de diversas críticas
de setores ligados às farmácias de manipulação.
As pressões para modificação do texto da
proposta fizeram com que a Anvisa prorrogasse em 90 dias o prazo
para consulta
pública, que deveria terminar no dia 18 de junho. Entidades
contrárias à proposta como o Sindicato das Farmácias
de Manipulação do Estado de São Paulo (Sinfarma)
e Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais
(Anfarmag) esperam que, com o aumento do prazo da consulta pública,
os argumentos para mudança da proposta ganhem ainda força
e sejam considerados pela Anvisa antes da atualização.
“Alguns
pontos da proposta de atualização da norma técnica
causaram um descontentamento público muito grande, o que
mostra uma necessidade de revisão cuidadosa. Conseguimos
que a consulta pública fosse adiada e esperamos que a Anvisa
leve em consideração as várias críticas
que foram e ainda serão feitas antes de realizar a atualização”,
enfatizou o presidente do Sinfarma, Léo de Vincei Russo.
Segundo
essas entidades, algumas das mudanças na norma técnica,
que atinge o funcionamento de mais de 5 mil farmácias de
manipulação ou magistrais existentes no país,
não trazem nenhum benefício em relação
ao aumento da qualidade e segurança dos medicamentos manipulados
e ainda dificultariam a viabilidade de funcionamento de muitas
farmácias. Para Russo, a regulamentação diminuiria
de tal forma o papel e espaço de atuação
das magistrais que acabaria condenando-as a uma gradual extinção.
As
principais críticas a proposta da Anvisa dizem respeito
a restrições e algumas exigências para funcionamento.
Entre as restrições está, por exemplo, a
proibição da manipulação de medicamentos
com formulação igual à de remédios
registrados e comercializados no país.
“Está
instituída a reserva de mercado para os medicamentos industrializados,
e a população perde o acesso aos medicamentos magistrais,
na sua maioria, com preços bem mais acessíveis que
os praticados pela indústria”, afirmou o professor
e orientador acadêmico da Farmácia Universitária
da Universidade Federal Fluminense (UFF), Leandro Rocha em artigo
publicado no site da UFF.
Além disso, a restrição à publicidade
ou promoção de preparações magistrais
para o público em geral e para os médicos é
outra proposta criticada, já que colocaria as farmácias
de manipulação em desvantagem em relação
às grandes empresas farmacêuticas que investem pesado
em marketing. A norma também traz mudanças que interferem
na prescrição de associações de medicamentos
manipulados, que seria permitida apenas mediante uma justificativa
do médico - o que também não ocorre em relação
às receitas médicas para fármacos industrializados.
Na
opinião de Russo, várias exigências operacionais
de adequação de instalações, procedimentos
e processos feitas pela Anvisa não levaram em conta a principal
característica das farmácias de manipulação
que é a produção de medicamentos em pequena
escala e, por isso, inviabilizam o trabalho das magistrais. Segundo
Rocha, da UFF, as determinações são, em alguns
casos, maiores do que aquelas feitas às indústrias.
“Estão passando para o setor magistral exigências
que deveriam ser feitas para os fornecedores de insumos”,
criticou.
Para
o presidente da Sinfarma, é preciso deixar claro que as
farmácias de manipulação não são
contrárias a medidas que contribuam para agregar qualidade
aos medicamentos. “O texto de atualização
proposto, com o pretexto de melhorar à qualidade e oferecer
medicamentos mais seguros, contém algumas proibições
e exigências que não contribuem para qualidade e
segurança dos medicamentos manipulados”, afirma Russo.
Para ele, se o texto for aceito, o funcionamento das farmácias
magistrais pode ficar inviabilizado, o que prejudicará
profissionais farmacêuticos e a população.