Gestão
de Museus de Ciências deve ser pensada desde o projeto
Os Museus de Ciências devem ter sua gestão pensada desde o projeto
de implantação, senão correm o risco de não irem para
frente. A afirmação é de Ignacio García de la Rosa,
pesquisador do Instituto de Astrofísica de Canárias (IAC). Rosa
participou como diretor da implantação do Museo de la Ciencia
y el Cosmos (MCC), localizado em Tenerife, nas Ilhas Canárias (Espanha),
e é pesquisador convidado do Instituto de Astronomia, Geofísica
e Ciências Atmosféricas (IAG), da USP. Ele discutiu os custos de
implantação de museus de ciências e os problemas financeiros
que surgem na gestão dos museus, no último dia 28, no Ciclo de Seminários
do Museu de Ciências de Campinas, que aconteceu na Unicamp.
De
acordo com Rosa, os museus de ciência precisam ter um planejamento de recursos
para terem continuidade, já que as verbas para implantação
dos museus são intensas no "nascimento", mas tendem a diminuir
na "vida adulta" (que o pesquisador define como um museu com mais de
dez anos). Isso porque há um investimento público inicial, mas depois
que o museu deixa de ser novidade, os governos tendem a destinar recursos a novos
projetos - e novas inaugurações.
O
pesquisador explicou que especialmente os museus interativos, que têm um
desgaste maior das peças que compõem as exposições,
devem se preocupar, já durante o projeto, com a manutenção
das peças após a inauguração. "Já vi alguns
museus fecharem logo um mês após a inauguração por
não conseguirem se manter", contou Rosa.
Para
os museus interativos, a sugestão é que as peças sejam fabricadas
internamente, diminuindo custos, criando capacitações e facilitando
a reposição de peças. "Imagine se preciso repor uma
peça do meu museu e a empresa que a fabricou já não existe
mais?", exemplifica. A fabricação interna das peças
é uma das principais características do Promusit,
projeto do Museu de Ciência e Tecnologia da PUC do Rio Grande do Sul. Entre
os aparelhos, estão uma harpa a laser sem cordas, tubos para observação
da propagação dos sons emitidos, um aparelho de observação
de um ambiente com infravermelho, entre outros.
Além
da manutenção das peças das exposições já
existentes, Rosa destaca que é preciso também mudar as exposições
e trazer novidades para conseguir manter o público atraído. Nesse
sentido, o Museo de la Ciencia y el Cosmos tem se destacado, já
que mesmo com 12 anos de existência, tem conseguido manter uma média
de 50 mil visitantes por ano (em uma região de cerca de um milhão
de habitantes). Uma experiência recente que deu certo nesse museu é
a exposição "Turismo Cósmico", em que os visitantes
fazem um tur passando por um cometa, pela lua de Júpiter, Marte
e, por fim, pela Terra. Para realizar o projeto, a equipe utilizou parte dos recursos
de dois anos destinados à manutenção do museu, ao invés
de pedir novos recursos (o que poderia ser difícil de conseguir). O MCC
sobrevive com 50 mil euros por ano (aproximadamente R$150 mil), além dos
recursos dos ingressos (3 euros por pessoa ou cerca de R$ 9). Aos domingos, a
visitação é gratuita.
O
diretor do museu espanhol destacou ainda que as instituições precisam
estar em contato permanente com a sociedade e promover atividades culturais. Nesse
sentido, entre as alternativas encontradas pelo MCC está a exibição
de filmes de ficção científica, com posterior debate com
especialistas, e atividades de observação astronômica realizadas
com telescópios na rua. "Com isso, as pessoas ficam sempre atentas
para as demais atividades do museu", afirmou Rosa.
De
acordo com a Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência
(ABCMC), o Brasil possui pelo menos uma centena de centros e museus de ciência.
Mas os problemas relacionados à gestão de museus no país
não atinge somente os museus de ciências. Recentemente, foi anunciada
a péssima situação financeira do Museu de Arte de São
Paulo (Masp), fundado em 1947 que, de acordo com alguns críticos, se deve
a problemas administrativos do museu. Neste ano, o Masp ainda não recebeu
nenhum recurso de doadores privados, uma de suas principais fontes de recursos.