Adoção
de embriões pode ser alternativa ao seu uso em pesquisas
Embora a pesquisa com células-tronco esteja encontrando
respaldo na legislação em países como o Brasil,
Inglaterra, EUA e Coréia o debate está longe de
estar encerrado. Grupos contrários agora apostam na “adoção”
de embriões de clínicas de fecundação
assistida para evitar seu descarte ou uso em pesquisas. Nos EUA,
o programa Snowflakes
conta com mulheres que se dispõe a engravidar a partir
do implante desses embriões em seu útero. A idéia
é também defendida por Lílian Piñero
Eça, bióloga molecular da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp), que alega que os embriões congelados
por mais de três anos – que estão liberados
para uso em pesquisa – têm condições
de gerar bebês saudáveis, ao contrário do
que muitos cientistas têm dito.
Na
semana passada, os parlamentares norte-americanos votaram a favor
da expansão dos limites impostos ao financiamento de pesquisa
com células-tronco de 238 votos a 194, mesmo cientes de
que a decisão provavelmente será vetada pelo presidente
George Bush. Ontem, Bush revidou levando a público o casal
McClure que teve um filho gerado a partir da implantação
bem sucedida de um dos 13 embriões que “adotaram”
de uma clínica de fertilização assistida,
como resultado de sua adesão ao programa Snowflakes, junto
com outras 20 famílias. Como relatou
o jornal New York Times de hoje, os filhos gerados a
partir de embriões de clínicas de fertilização
vestiam camisetas com os dizeres “este embrião não
foi descartado”, com apelo emocional semelhante ao causado
pela ida de portadores de distrofias musculares ao congresso nacional
brasileiro em busca de apoio à pesquisa com células
tronco embrionárias no começo do ano.
Segundo
o médico de reprodução assistida Paulo Marcelo
Perin, da clínica de reprodução assistida
Diagnóstico Sonográfico (Diason), não está
claro qual é o limite de tempo que um embrião pode
ficar congelado para gerar um bebê saudável. “O
relato mais antigo da literatura científica é de
um embrião congelado por 18 anos e que gerou um bebê
saudável nos EUA”, lembra. Mas ele enfatiza que depois
de três anos há uma queda na qualidade desses embriões,
período a partir do qual a Lei de Biossegurança
autoriza a pesquisa com células-tronco embrionárias.
Existem
dois grupos principais de embriões que são congelados:
os de bom potencial reprodutivo (com 30 a 40% de chance), que
sobraram do tratamento de pacientes que conseguiram engravidar;
e os de baixo potencial (menos de 10%), resultado de tratamentos
em que a paciente não engravidou. Perin acredita que o
primeiro grupo talvez possa ser doado a casais com dificuldades
de reprodução e sem condições de arcar
com os custos de um tratamento. Mesmo assim, o casal doador precisa
autorizar este uso, assim como ocorre para o uso em pesquisas.
“Dos mais de mil casais que tratamos, nenhum autorizou a
doação de seus embriões para casais inférteis”,
informa Perin. A maioria dos casais (60%) tratados na Diason opta
pela destruição dos embriões e o restante
(40%) prefere a doação para pesquisa.
Lílian
Eça, junto com outros colegas da Unifesp, apóia
o procurador-geral da República, Cláudio Fonteles,
que entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal
alegando inconstitucionalidade do artigo 5º da Lei de Biossegurança
que permite o uso de embriões produzidos por fertilização
in vitro para pesquisa. Um dos argumentos colocados é que
o reduzido número de embriões congelados há
pelo menos três anos, 3.219, não seria suficiente
para a realização de pesquisas. Isso porque, segundo
ela, 40% morrem depois que são descongelados e outra parte
ainda precisa de autorização para ser utilizado
em pesquisa. Além disso, ela reforça a necessidade
de altos investimentos e, pelo menos, uma década para se
conhecer os mecanismos de funcionamento como terapia. "Nós
achamos que a reprodução assistida em si já
é uma complicação. Tanto é que o Sistema
Único de Saúde (SUS) não financia a reprodução
assistida, e não há dinheiro público no Brasil
que financie isso. Os embriões são descartados nessas
clínicas porque no Brasil é proibido por lei congelar
embrião humano", diz Alice Teixeira Ferreira, também
coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Biotética
da Unifesp em reportagem
da ComCiência.
“No
Brasil não se cogitou ainda a doação de embriões
congelados para famílias que tenham dificuldades [para
ter filhos]. Mas estamos tentando, através desta ação
da inconstitucionalidade do Dr. Fonteles, que se possa oferecer
esta oportunidade que ainda não foi passada para a opinião
pública”, afirma Lílian Eça.
Leia
mais na ComCiência:
-Manifesto
contra a utilização de embriões humanos em
pesquisa
-Edição
sobre Células-tronco