Movimentos
pela inclusão digital incentivam resistência ao monopólio
do software
Há tempos as grandes empresas de tecnologia sabem que a
disseminação das tecnologias de informação
e comunicação pode ser democratizadora, mas também
pode significar negócios altamente lucrativos. De olho
em potenciais novos mercados, elas escalam seus maiores lobistas
para pressionar governos e agências internacionais a utilizarem
seus produtos sob o pretexto de vencer a exclusão digital.
A Cúpula Mundial sobre Sociedade da Informação,
evento realizado pela Organização da Nações
Unidas (ONU), é um desses locais de pressão. A mesma
pressão já foi sentida na reunião preparatória
da América Latina e Caribe, que aconteceu entre 4 e 6 de
maio, no Equador, e deve se repetir na Conferência Regional
sobre Sociedade da Informação, que acontece no Rio
de Janeiro entre 8 e 10 de junho.
Na reunião do Equador, o Brasil, apoiado por Argentina,
Chile, Uruguai e República Dominicana, defendeu que fosse
preparado um inventário regional sobre experiências
de uso de software livre e de código aberto a ser levado
para a Conferência Mundial sobre Sociedade da Informação,
na Tunísia, que acontece em novembro. Os delegados do México,
El Salvador e Equador pediram pela inclusão do software
proprietário nesse trabalho, dizendo serem favoráveis
a uma política de "neutralidade tecnológica".
De
acordo com Paulo Lima, da Rede de Informações para
o Terceiro Setor (Rits), o delegado representante do Equador -
um dos opositores da proposta brasileira - era, até pouco
tempo, integrante de uma banca de advogados que trabalhava para
a Microsoft. "O debate, que era somente sobre a formação
de um grupo de trabalho que geraria estudos e um inventário
de iniciativas, demonstrou o quanto estão algumas delegações
articuladas com a defesa do software proprietário. Essa
defesa, assim como a resistência a criação
de compromissos regionais "vinculantes", que inviabilizariam
os acordos de livre comércio diretamente assinados com
os Estados Unidos, vem marcando as negociações",
afirma Paulo Lima.
A Cúpula, em si, não tem o poder de impor regras
a nenhum dos países que dela participam. Porém,
acordos multilaterais costumam sair desses encontros, que são
parte importante do xadrez político internacional. A Rio-92,
por exemplo, foi um encontro semelhante, voltado para o setor
ambiental, e nela foram assinados acordos como a Convenção
de Diversidade Biológica (CDB).
Atuação necessária
Para vencer a pressão das empresas e dar suporte aos delegados
de certos países, os movimentos sociais ligados à
área de Tecnologia da Informação estão
se organizando para atuar de forma maciça tanto no encontro
do Rio de Janeiro como na Tunísia. Entre 25 e 26 de abril,
foi realizado um seminário preparatório com membros
da sociedade civil que teve por objetivo informar sobre a conferência
regional e mundial e convidar a sociedade civil à participação.
No seminário, foi aprovada uma carta endereçada
ao ministro das relações exteriores, Celso Amorim.
O documento, entre outros, pede maior apoio e infra-estrutura
para a participação dos movimentos sociais e uma
prorrogação do prazo para a inscrição
- ironicamente, o site oficial apresentou problemas técnicos.
A participação da sociedade civil na Cúpula
acontece de forma oblíqua. Representantes do movimento
social podem integrar as delegações se convidados
pelos governos de seus países - votando como representantes
de tais - mas entidades independentes só podem participar
como observadores ou nas atividades paralelas à cúpula,
organizadas pelos próprios movimentos da sociedade civil.
A Conferência Regional, que acontecerá no Rio de
Janeiro, é também uma reunião preparatória
para a Cúpula Mundial, em novembro. Esta, por sua vez,
marca a segunda e última fase de um processo que se iniciou
com a Cúpula Mundial de Genebra, que aconteceu em 2003.
De acordo com os organizadores, na reunião da Tunísia,
será revista a implementação do Plano de
Ação, acertado em 2003, e serão elencados
novos objetivos a serem atingidos pelos países até
2015.
Leia
mais:
-Plano
de Ação acertado em Genebra
-
Site
preparatório dos movimentos sociais
-
Site
oficial da Conferência Regional sobre Sociedade da Informação