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Mesmo após câncer de mama, mulheres
podem ter boa qualidade de vida

Segundo estudo científico realizado no Centro de Atenção Integral da Saúde da Mulher (Caism) da Unicamp, que deve ser publicado ainda este semestre, a ocorrência do câncer de mama não é sinônimo de piora da qualidade de vida. Esse resultado foi obtido através da análise de respostas dadas em um questionário de avaliação de qualidade de vida (QV) por mulheres com e sem histórico de câncer de mama que freqüentaram o Caism. A pesquisa defende a modificação nos tratamentos tradicionais, que tratam apenas a doença pontualmente e não o paciente como um todo.

Participaram do estudo 97 mulheres com histórico de câncer de mama e 85 que nunca tiveram a doença, todas entre 45 e 65 anos e não usuárias de terapia hormonal nos últimos 6 meses. As respostas obtidas revelam que as mulheres com câncer de mama podem ter uma qualidade de vida tão boa quanto as que nunca tiveram a doença. "Apesar da minha prática médica dentro do próprio Centro, não esperava obter esse resultado", confessou o oncologista Délio Marques Conde, responsável pelo estudo. Isso porque, segundo ele, antes da investigação sobre a qualidade de vida dessas mulheres, mesmo o corpo clínico acabava compartilhando da idéia de que pessoas que tiveram algum tipo de câncer são, necessariamente, menos saudáveis e felizes que pessoas que nunca tiveram a doença.

De acordo com Conde, apesar de não haver um consenso quanto à definição de qualidade de vida, a maioria dos pesquisadores concorda que devem ser levados em conta os domínios físico, social, psicológico e espiritual. O questionário utilizado para medição da qualidade de vida foi o Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey, utilizado internacionalmente e conhecido como F-36. As perguntas permitem avaliar características como o interesse e atividade sexual, a facilidade para exercer atividades cotidianas (funcionalidade), os relacionamentos sociais e a ocorrência de dores. "Outro resultado interessante está relacionado à capacidade funcional das mulheres com câncer ter sido superior à capacidade de mulheres que não tiveram a doença", acrescentou o médico. Esse resultado pode ser fruto de um aumento da preocupação com a saúde e a mudança no estilo de vida das pacientes que tiveram câncer de mama.

Em relação à diminuição de qualidade de vida, no entanto, as mulheres que tiveram câncer de mama apontaram o casamento e a diminuição da atividade sexual, como os principais fatores. Entre as causas que poderiam ser mencionadas, de acordo com o oncologista, estão a falta de participação do parceiro no processo de tratamento da doença, a diminuição na alto-estima da mulher e no interesse sexual do parceiro, principalmente quando ocorre a retirada parcial ou total da mama. Outro fator que leva a uma queda na qualidade de vida é a maior interferência dos sintomas do período do climatério (período que antecede a menopausa) - como ondas de calor, secura vaginal, insônia e nervosismo - nessas mulheres. Isso porque a terapia de reposição hormonal - umas das mais indicadas para combater os sintomas do climatério - não lhes é recomendada. "Seria necessário uma maior atenção voltada à divulgação de terapias alternativas", enfatiza Conde.

O diagnóstico sobre a qualidade de vida das pacientes de câncer revelou que é necessário haver uma mudança no tratamento oferecido, de forma a desenvolver terapias que tratem a pessoa como um todo e não apenas a doença, defende o autor da pesquisa. "Cada vez mais percebemos que a qualidade de vida não está estritamente relacionada ao estado de saúde, mas a uma série de outros fatores subjetivos", conclui.

Atualizado em 03/05/05
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