Mapeamento
dos territórios quilombolas
mostra concentração no nordeste
Os quilombos, parte da história do povo e do território brasileiro,
acabam de ganhar um mapeamento no Brasil. A pesquisa tenta traçar um novo
panorama desses territórios e contribuir para a sua preservação.
"São territórios de risco que se não forem assegurados
pelo governo vão desaparecer", avisa o coordenador da pesquisa, Rafael
Sanzio Araújo dos Anjos, do Centro de Cartografia Aplicada e Informação
Geográfica da Universidade de Brasília (UnB). Atualmente, existem
cerca de 2.228 comunidades remanescentes de quilombo, sendo que apenas 70 possuem
registro no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra) e outras 100 estão em processo de regularização.
|
Em vemelho, a distribuição das comunidades
quilombolas
Fonte: UnB Agência |
A
distribuição espacial dos territórios quilombolas no país
mostra que a maioria das comunidades está concentrada na faixa litorânea
e mais da metade delas no Nordeste. Os Estados com o maior número de registros
são o Maranhão, a Bahia, o Pará e Minas Gerais (veja tabela).
Os dados foram coletados de organismos oficias das esferas federal, estadual e
municipal, de documentos enviados por representações das comunidades
afro-descendentes e de pesquisas desenvolvidas nas principais universidades brasileiras.
|
Estado |
N°
de Comunidades |
1 | Maranhão |
642 |
2 | Bahia |
396 |
3 |
Pará | 294 |
4 | Minas
Gerais | 135 |
5 | Pernambuco |
91 |
6 | Rio
Grande do Sul | 90 |
7 |
Piauí | 78 |
8 |
São Paulo | 70 |
9 | Rio
Grande do Norte | 64 |
Esta foi
a segunda etapa do projeto, que identificou 1.388 novos registros desde a finalização
da primeira fase, em 2000. O coordenador da pesquisa explica que essa diferença
é indicativa da emergência de políticas afirmativas e outras
ações da sociedade pelo fortalecimento da identidade negra.
As
próximas etapas do projeto incluirão a realização
de oficinas temáticas nas cidades de São Paulo (22 e 23 de julho),
Porto Alegre (18 e 19 de agosto) e Brasília (16 e 17 de setembro), além
de exposições cartográficas itinerantes em seis capitais
brasileiras e também em Paris, dentro da programação do ano
do Brasil na França. O objetivo principal é combater o racismo e
dar suporte ao ensino de conteúdos africanos.
As
oficinas com o tema Introdução à Geografia Afro-Brasileira
são destinadas a professores, lideranças comunitárias e representantes
do movimento negro. Já a exposição cartográfica itinerante
A África, o Brasil e os Territórios dos Quilombos é
dividida em três módulos integrados que tratam da geografia africana,
do mapeamento com os registros das comunidades remanescentes de antigos quilombos
e do monitoramento espacial dos territórios quilombolas, que tiveram suas
terras demarcadas e tituladas desde a Constituição de 1988. (Mais
informações)
Rafael
Sanzio enfatiza a importância do mapeamento dos remanescentes de quilombolas
para melhorar o reconhecimento legal destas áreas, uma vez que há
um enorme abismo entre o número de terras existentes (2.228) e o número
de terras registradas (70). Esse fosso pode ser ainda maior. A Coordenação
Nacional de Entidades Negras (Conen) aponta a existência de aproximadamente
5 mil comunidades quilombolas, enquanto cerca de apenas 30 ou 40 comunidades receberão
registro até o final do ano, como informa Cláudio Braga, coordenador
de Quilombos da Diretoria Fundiária do Incra.
A
preservação dos territórios quilombolas passa, necessariamente,
pela questão fundiária. "Por não terem documentação
oficial, esses grupos são alvo de pressão para deixar a terra que
ocupam. São territórios de risco que, se não forem assegurados
pelo governo, vão desaparecer", prevê o coordenador da pesquisa.