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Viagem de Richard Burton é revivida
em expedição "cidadã"


Ao atender comunidades do interior de Minas Gerais, médicos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) perceberam que a simples medicação não era suficiente, porque as mesmas doenças voltavam a aparecer nos anos seguintes, já que muitos locais eram poluídos e sem saneamento. Criaram, então, o Projeto Manuelzão, que associa saúde, ambiente e cidadania e atua em 51 municípios da bacia do Rio das Velhas. No âmbito desse projeto, três navegadores fizeram de caiaque o mesmo percurso que o explorador inglês Richard Burton havia feito em 1867. A Expedição Manuelzão desce o Rio das Velhas resultou em um livro e um documentário lançados em abril.

O livro Navegando o Rio das Velhas das Minas aos Gerais (Cooperativa Editora e de Cultura Médica), que tem ao todo quase mil páginas e contou com a participação de 66 pessoas em sua elaboração, é dividido em dois volumes. O primeiro traz um diário de bordo da expedição e compara as observações dos navegadores Ronald Guerra, Roberto Varejão e Rafael Bernardes sobre as condições atuais da bacia com relatos feitos no século XIX por Richard Burton, que escreveu Viagem de Canoa de Sabará ao Oceano Atlântico. Todas as etapas da expedição, desde os preparativos até a chegada em Barra do Guaicuí, onde o Rio das Velhas deságua no São Francisco, são relatadas no livro.

Esse diário de bordo resultou em uma rica coleção de histórias alegres, tristes, esperançosas ou trágicas, documentadas em textos e fotos. "Um momento marcante foi a passagem dos caiaques pela parte mais poluída e o risco de queda em pequenas cachoeiras da região", conta Eugênio Goulart do Departamento de Medicina Pediátrica da UFMG, organizador do livro. Em cada parada, os navegadores eram recebidos pela comunidade e falavam sobre a importância do tratamento de esgoto, de não despejar lixo nos rios e de preservar as matas ciliares e as nascentes.

O segundo volume do livro é uma enciclopédia sobre a bacia do Rio das Velhas, escrita por especialistas de diversas áreas e dividida em 32 capítulos temáticos, que abordam desde a pré-história da região e sua importância para a arqueologia do continente até a biodiversidade de mamíferos, aves e plantas medicinais em torno da bacia. "Esse segundo volume destina-se a alunos de segundo grau e a um público universitário", diz Goulart. Segundo ele, o conjunto dos dois volumes de Navegando o Rio das Velhas das Minas aos Gerais, já foi doado a 200 escolas mineiras.

Os 29 dias da expedição estão resumidos em 55 minutos de um documentário (em DVD e VHS), que registra belas paisagens em contraste com cenas de degradação ambiental sofrida na região da bacia do Rio das Velhas. O filme também registra uma parte do patrimônio histórico e cultural da região, através das festas que as comunidades organizavam nas paradas dos expedicionários, com apresentações artísticas e manifestações folclóricas. Os coordenadores do Projeto Manuelzão estimam que cerca de 70 mil pessoas tiveram contato com a expedição, entre ribeirinhos e participantes dos eventos organizados por escolas, comitês locais e prefeituras.

Atualizado em 10/05/05
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