Índia
de 9 anos lança livro bilíngue
em guarani e português
Após o Ministério da Educação anunciar
o apoio à produção de materiais didáticos
específicos para os índios feitos com a participação
das próprias comunidades indígenas, foi lançado
em abril o primeiro livro da escritora indígena mais jovem
do país. Trata-se de A Índia Voadora, da
jovem Guarani de 9 anos, Kerexu Mirim, com uma tiragem de 500
exemplares conseguidos com produção independente,
sem qualquer patrocínio. O lançamento aconteceu
na biblioteca Benedito Bastos Barreto, em São Paulo (capital),
e contou com a presença de estudantes da região
metropolitana de São Paulo.
Kerexu vive na aldeia Krukutu, em uma reserva de Mata Atlântica
localizada em plena capital paulista. O livro trata de algo que
ela sempre sonhou: andar de avião. Em uma aldeia situada
na grande metrópole de São Paulo, os índios
estão acostumados a ver passar aviões todos os dias.
A pequena Kerexu sempre reparava e alimentava a curiosidade de
um dia fazer um passeio nessa grande máquina voadora. Seu
pai, o também escritor Olívio Jekupé, dizia
a ela que isso seria difícil, porque ele não tinha
condições de pagar tal passeio.
"Mesmo assim, ela continuou sempre falando que um dia ia
andar nas alturas", disse por e-mail o pai da escritora mirim,
após a leitura da edição
da ComCiência dedicada aos Direitos Indígenas.
Um dia, por sorte, um político foi até a aldeia
de helicóptero. "A pequena Kerexu falou com a autoridade
que queria dar uma volta na grande máquina", conta
Jejupé. O político consentiu e a menina fez um vôo
pelo alto da aldeia e arredores da capital. "Foi um sonho
que ela conseguiu realizar, não de avião, mas de
helicóptero", completa.
A versão de A Índia Voadora em português,
idioma que Kerexu começou a aprender há dois anos
na escola indígena da aldeia Krukutu, foi escrita com a
ajuda do pai. Segundo Olívio Jekupé, além
dele e sua filha, existem outros escritores indígenas no
Brasil, o que ele considera importante para o fortalecimento de
suas culturas. "É uma grande arma para nos defendermos,
pois através da nossa escrita podemos fazer com que a sociedade
valorize mais nossa gente, que entenda que nós também
temos capacidade de pensar e refletir, que somos gente como eles,
e que a sociedade aprenda uma história verdadeira, contada
e escrita por nós mesmos", defende.
Ele próprio é autor de sete livros: O saci verdadeiro,
publicado pela Editora da Universidade Estadual de Londrina; Arandu
ymanguaré, pela Editora Evoluir - incluído no
Programa Nacional do Livro Didático - ; Xerekó
arandu: a morte de Kretã, Larandu o cão falante
e Verá, o contador de história, os três
pela Editora Peirópolis - sendo o último recomendado
pela Fundação
Nacional do Livro Infantil e Juvenil - ; 500 anos de angústia,
livro de poemas disponível apenas na aldeia indígena
Krukutu; e Ajuda do Saci, ainda inédito.
Jekupé
acredita que o fato de surgirem escritores indígenas no
país não irá levar ao fim da história
oral de suas comunidades. Na visão dele, a oralidade, pelo
contrário, "irá crescer ainda mais". "E
também é importante que tenhamos escritores indígenas,
porque temos escolas em várias aldeias do Brasil, e se
não temos nossas histórias escritas por nós,
aí nossas crianças terão que ler livros somente
dos brancos. Com isso, aprenderão histórias deles
e isso poderá fazer com que nossas crianças valorizem
mais a histórias deles que as nossas", conclui.
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