Casa
Brasil promete inclusão
digital para classes D e E
Voltado para as periferias das grandes cidades e para o interior do país,
o programa Casa Brasil, do governo federal, promete implantar 90 casas de cultura
que integrarão bibliotecas, rádios livres, multimídia e inclusão
digital. Serão R$ 20 milhões para compra de equipamentos e treinamento
de monitores.
Atacado
por uns e elogiado por outros devido ao programa PC Conectado, o governo federal
dá mais um passo em seu programa de inclusão digital. Na semana
passada foi lançado - publicado no Diário Oficial - o edital do
programa Casa Brasil, um ambicioso plano interministerial que pretende espalhar
centros de cultura - digital e analógica - nas periferias das capitais
e no interior do Brasil. "O PC Conectado é voltado à classe
C enquanto o Casa Brasil atinge as classes D e E", afirmou o presidente do
Instituto Nacional de Tecnologia de Informação (ITI), Sérgio
Amadeu. A declaração foi dada em uma das sessões do Congresso
de Informática Pública (Conip), realizado entre os dias 17 e 19
na capital paulista.
Tanto
o PC Conectado como o Casa Brasil são programas que trabalham com software
livres. Esse tem sido o principal foco das críticas ao PC Conectado. Pelas
normas do programa, fabricantes de hardware e desenvolvedores ou prestadores de
serviço em software oferecem ao consumidor um computador já preparado
para a internet e o governo ajuda com financiamento e redução de
impostos. Como o software tem que ser livre, produtos de empresas como a Microsoft,
que só produz software proprietário, ficam de fora.
Já
no Casa Brasil a questão do software promete ser menos polêmica,
já que a escala do programa é menor e não envolve a venda
a varejo direto ao consumidor. Além disso, parte importante do orçamento
destinado ao programa se dirige ao treinamento de monitores, o que deve ajudar
na disseminação das tecnologias livres. Bolsas de estudo serão
concedidas a monitores que se encarregarão de ajudar os usuários
e a treinar novos monitores. Segundo Amadeu, investir na formação
e na disseminação do conhecimento é mais importante do que
investir recursos federais na compra de máquinas.
Serão
investidos R$ 20 milhões no programa, destinados preferencialmente a parcerias
entre ONGs e prefeituras, que serão responsáveis pela implementação
nas localidades. Até junho, a Petrobras deverá entregar 50 dessas
unidades financiadas com recursos da empresa. Os recursos do governo servirão
para o financiamento de mais 89 unidades. A inscrição no edital
vai até 2 de junho.
Originalmente,
o programa é derivado dos Pontos de Cultura - iniciativa do Ministério
da Cultura que pretendia espalhar mil casas de cultura digital -, que são
locais para a produção de vídeo, música e outras produções
de mídia digital. Com os cortes de orçamento federais o programa
foi encolhendo e a saída acabou sendo unir-se a programas de outros ministérios.
Um deles é o programa Gesac (Governo Eletrônico - Serviço
de Atendimento ao Cidadão), do Ministério das Comunicações,
que oferece um antena para a conexão por satélite e uma gama de
serviços como telefonia sobre IP e espaço na web.
Na
apresentação do programa que fez no Conip, Amadeu insistiu na questão
da escolha de tecnologias. "As tecnologias não são neutras,
elas são criadas pelo homem e para atender a determinados fins". Segundo
ele, o uso de tecnologias livres e abertas é essencial para vencer não
só a exclusão social mas a desigualdade cognitiva imposta pelo software
proprietário. Com seu código fechado, o software proprietário
impede que o usuário estude o funcionamento dos programas e faça
alterações.
Amadeu
defendeu também que a inclusão digital seja tratada como política
pública. "Por que quando um governo acaba ninguém fecha as
escolas?", perguntou. "Porque a educação é uma
política pública, o Estado reconhece uma necessidade da sociedade
e se organiza para atuar". Antes de ser presidente do ITI, Amadeu trabalhou
no programa de inclusão digital da prefeitura de São Paulo, os Telecentros,
que têm recebido constantes cortes de financiamento por parte da nova administração
do prefeito José Serra (PSDB).