Cidades
fronteiriças são mais susceptíveis
à exploração
sexual de jovens
No dia nacional de luta contra o abuso e a exploração sexual de
crianças e do adolescente, 18 de maio, foi lançado um estudo analítico
do enfrentamento da Essca (sigla que denomina a exploração sexual
comercial de crianças e de adolescentes). A pesquisa foi realizada entre
1996 e 2004, coordenada pelo Grupo de Pesquisa sobre Violência e Exploração
Sexual (Violes), da Universidade de Brasília (UnB). De acordo com o trabalho,
as cidades fronteiriças são mais suscetíveis ao aparecimento
da exploração sexual de jovens. A pesquisa foi financiada pela ONG
sueca Save the Children e será encaminhada para a comissão
interministerial de enfrentamento da exploração sexual do Brasil.
Por
meio do mapeamento das cidades brasileiras, os pesquisadores encontraram 930 municípios
com casos de exploração sexual de jovens e 110 rotas de tráfico
interno. Também foram notificadas 131 rotas de tráfico internacional
de crianças, adolescentes e mulheres, destinados principalmente para os
EUA, para países da Europa (como Espanha, Holanda, Itália e Portugal
etc) e para países da América Latina (Paraguai, Venezuela, Suriname,
entre outros). De acordo com o estudo, as adolescentes, mais do que crianças,são
traficadas por meio das rotas intermunicipais e interestaduais, com conexão
para as fronteiras com países da América Latina.
O
estudo aponta ainda 104 cidades que fazem fronteira com a Guiana Francesa, Suriname,
Guiana, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Argentina, Uruguai e
Paraguai e que apresentam maior incidência de crimes como prostituição
infantil, turismo sexual, tráficos para fins de exploração
sexual e pornografia como parte do dia a dia. De acordo com o relatório,
a deficiência na fiscalização de portos, aeroportos, rodoviárias
e postos de fronteiras das cidades fronteiriças contribui para que a manutenção
dessa rede de tráfico internacional. A corrupção existente
nesses países também facilitaria a falsificação de
documentos para envio dos menores para o exterior.
Para
a professora e pesquisadora da UnB e uma das coordenadoras do estudo, Maria Lúcia
Leal, o relatório deve subsidiar as políticas públicas e
articular projetos de ação para se enfrentar o problema no nível
municipal. "Deve-se estabelecer uma lógica de reorganização
dessas políticas publicas já que seus programas se encontram totalmente
desorganizados", afirma Leal. E completa: "a sociedade precisa culturalmente
ter uma resposta concreta à questão da Essca, pois a corrupção
é tão grande que não se consegue desarticular o abuso de
poder".
O objetivo do estudo não é somente notificar
os crimes, afirma Leal, mas encaminhar e acompanhar as crianças, adolescentes
e suas famílias, para que tenham um caminho de qualidade de vida e o encontro
com o direito social. "Assim, desmotivamos o consumo do sexo mercantilizado",
conclui.