Participação
da comunidade garante sucesso de revitalização de rio em SP
O ribeirão Anhumas, que tem cerca de 70% de sua área localizada
na cidade de Campinas (SP), sofre o impacto da urbanização crescente
e descontrolada. A vegetação que protegia suas margens praticamente
inexiste, o acúmulo de lixo e entulho é visível por quase
toda sua extensão e o lançamento de esgotos e dejetos de uma fábrica
de sabão e glicerina são freqüentes. O projeto Salve o Anhumas,
no entanto, tem mobilizado a comunidade e promovido mudanças nesse cenário,
tão conhecido dos habitantes dos grandes centros urbanos. Agora, o movimento
ganha novo fôlego com a pesquisa Recuperação ambiental,
participação e poder público: uma experiência em Campinas,
sob a coordenação geral de Roseli Torres, que pretende potencializar
a produção de conhecimentos sobre a região, promovendo o
intercâmbio de experiências entre pesquisadores e as comunidades ribeirinhas.
O
Ribeirão Anhumas em 2003 e 2005.
Fotos: Elisabete Pascholati e Susana
Dias
Maria
Leomenia Sardenberg, presidente da Associação de Moradores e Amigos
do Guará (AMA-Guará), conta que o projeto Salve o Anhumas: educação
ambiental e recuperação comunitária de mata ciliar em Campinas/SP
promovido pelas associações dos bairros do Alto da Cidade Universitária
e do Guará, nasceu logo após a catastrófica enchente de fevereiro
de 2003 que ocorreu na cidade. "A enchente gerou uma relação
de ajuda entre os moradores dos bairros e fez nascer o desejo de cuidar do ribeirão
das Anhumas e prevenir novas inundações". As comunidades desses
bairros começaram a se encontrar e criaram um grupo que passou a se reunir
todos os sábados para trabalhar no projeto. As primeiras ações
de revitalização do ribeirão começaram com a limpeza
do local, que recebia muito entulho e lixo. Mais tarde, foi a vez dos plantios
que envolveram desde a coleta de sementes, a montagem de um viveiro de mudas,
a visita a outra comunidade que também realiza plantios às margens
do Atibaia, e a solicitação de mudas para várias instituições
públicas e privadas. A Fundação José Pedro de Oliveira,
responsável pela Mata Santa Genebra, também localizada em Campinas,
além de mudas forneceu orientação técnica para seu
plantio e manejo.
Os
plantios, que inicialmente tinham como objetivo a recuperação da
mata ciliar, transformaram-se em verdadeiros eventos culturais, com a realização
de várias oficinas voltadas para crianças e adultos e a apresentação
de grupos folclóricos locais. A revitalização do ribeirão
passa também por uma recuperação de espaços culturais
do bairro, como a praça às margens do rio, que recebeu arborização
e um parque doado pela sub-prefeitura de Barão Geraldo. Para a educadora
ambiental Alessandra Buonavoglia Costa-Pinto, o sucesso do projeto se deve a participação
das comunidades locais. "São os moradores que movimentam as conquistas
diárias do Salve Anhumas e, por isso, os objetivos do projeto são
traçados de acordo com os desejos das pessoas envolvidas", diz.
Plantios
mobilizam comunidades locais
Foto: Elisabete Pascholati Somando
forças
O projeto Recuperação ambiental, participação
e poder público: uma experiência em Campinas, financiado pela
Fapesp, tem potencializado desejos das comunidades envolvidas no Salve Anhumas,
deixando-as ainda mais motivadas com a possível extensão dos resultados
obtidos para outros trechos do ribeirão. "O objetivo do projeto é
produzir conhecimentos sobre a região e dar suporte aos planejamentos para
sua melhoria e sustentabilidade", diz Costa-Pinto, que atua como coordenadora
do componente de Educação Ambiental do projeto. Os primeiros levantamentos
feitos já resultaram na produção de mapas da bacia, dos solos,
da urbanização, das áreas de risco de inundações,
das unidades ambientais integradas, além da caracterização
da vegetação nativa e dos fundos de vale.
Projeto
da Fapesp propicia encontro de comunidades.
Foto: Vívian Furquim Scaleante
O
projeto, que envolve o Instituto Agronômico de Campinas, o Instituto de
Geociências da Unicamp e a Prefeitura Municipal da cidade, pretende atuar
em toda a bacia do ribeirão das Anhumas. No dia 2 de abril o projeto reuniu
moradores do baixo, médio e alto Anhumas - os bairros da Vila Brandina,
Rua Moscou, Alto da Cidade Universitária e Guará - e propiciou um
intercâmbio de experiências entre essas comunidades, além de
um visita a esses bairros.
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