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Conflitos continuam após homologação da Raposa Serra do Sol

Após a homologação dada pelo presidente Lula, no último dia 15, surgiu a esperança de que os conflitos na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (Roraima) chegassem ao fim depois de três décadas. Mas não foi isso que aconteceu: uma minoria da população indígena não aceita a homologação contínua e querem uma homologação em ilhas. Pessoas ligadas aos movimentos indígenas dizem que eles estão sendo manipulados pelos agricultores, latifundiários e alguns políticos da região. Ameaças de morte e atentados são os meios utilizados para tentar intimidar os que são a favor da homologação. De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), Roraima conta com mais de 30 mil índios.

Apesar do receio em comentar os conflitos para “não criar a imagem de briga com os parentes”, o vice-coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Jairo Pereira da Silva, conta que o que mais gera medo na região é a reação dos arrozeiros, que possuem lavouras nas terras indígenas. Ameaças foram feitas aos motoristas do CIR que estão nas áreas de conflito e, recentemente, o professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Fabio Almeida de Carvalho, sofreu um atentado violento: sua casa foi alvejada com um coquetel molotov. Não houve feridos, mas o carro do professor pegou fogo e sua família está assustada. A UFRR publicou uma nota de repudio ao atentado.

Além dos atentados, no final de 2004 foram destruídas algumas comunidades na área indígena. “Eles chegaram [os arrozeiros] pela manhã com caminhões e tratores nas comunidades e destruíram quatro delas, Jawuari, Homologação, comunidade Brilho do Sol, Retiro Tai-Tai e Insikiram. Inclusive balearam um índio com espingarda”, conta a Secretária Geral das Mulheres de Roraima do Conselho Indígena de Roraima, Lavina Alves Salomão, que também é moradora da Raposa Serra do Sol.

A remoção dos arrozeiros da reserva Indígena Raposa Serra do Sol é vista por alguns como uma possível solução para o problema. “Enquanto eles estiverem lá sempre haverá essas ameaças”, acredita Silva, do Conselho Indígena de Roraima (CIR). Outro ponto destacado por ele é a poluição gerada pela utilização dos agrotóxicos na pulverização das lavouras que contaminam as terras, os cursos de água e a saúde dos índios. “O governo federal tem toda a infra-estrutura para remover esses arrozeiros e realocá-los”.

Já a professora da Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ), Lia Osório Machado, ressalta que quem está dentro do movimento não tem meios para controlar que os próprios membros do movimento façam suas alianças para obter ganhos pessoais. “A pessoa quer se ligar a um grupo político achando que é o caminho mais correto”, conta. Machado é coordenadora do Grupo Retis de Pesquisa e recentemente concluiu uma pesquisa para o Ministério da Integração Nacional (MIN), com o título Programa de Desenvolvimento Social de Faixa de Fronteira. Para ela, os conflitos da Raposa Serra do Sol são gerados pelo caráter estratégico do lugar. “Não é só pelo arroz, mas eles (os arrozeiros) já estão vendo que vai valorizar as terras então existe uma pressão política para negociar com o governo, que precisa do voto das pessoas”, conclui.

Leia mais sobre conflitos indígenas na ComCiência:

- Riquezas em terras indígenas geram conflitos

- Edição ComCiência sobre Direitos Indígenas

Atualizado em 28/04/05
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