Palmeira
real australiana é alternativa para consumo sustentável
de palmito
Estudo
realizado pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) avaliou
a qualidade para industrialização do palmito retirado
da palmeira real australiana e constatou que as características
sensoriais (relativas ao paladar) e para industrialização
desse palmito são muito semelhantes as das espécies
jussara e açaí, mais consumidas pelos brasileiros.
Ao contrário da atividade extrativista-predatória,
geralmente utilizada para retirada dessas palmeiras, o cultivo
da palmeira real australiana pode reduzir danos ambientais e os
riscos para a saúde, oriundos da extração
na mata e processamento do palmito em instalações
precárias.
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Cultivo
de palmeira real australiana da fazenda do Instituto Agronômico
de Ubatuba (SP). Palmeiras com mais de 4 anos de cultivo.
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Para
Shirley Berbari, pesquisadora do Ital e uma das coordenadoras
do estudo, a industrialização de palmito no Brasil
sempre foi muito problemática e possibilitou a formação
de uma "cadeia produtiva toda errada, com uma prática
do extrativismo sem nenhum tipo de controle nas matas". Além
da preocupação ambiental, caso o palmito não
seja processado com base em controles tecnológicos, pode
trazer problemas à saúde humana, como o botulismo,
provocado por uma bactéria patogênica (Clostridium
botulinum) que se desenvolve em conservas alimentícias.
"Como a tecnologia para o processamento do palmito na forma
de conserva é relativamente simples, o produto acaba sendo
processado em condições precárias, sem nenhum
tipo de cuidado higiênico sanitário", afirmou
a pesquisadora.
Atualmente,
mercados internacionais, como o europeu, não vêem
a extração de palmito nativo com bons olhos, mas
Berbari acredita que "a organização da cadeia
produtiva do palmito começando pelo cultivo da matéria
prima, passando do extrativismo para o cultivo, trará uma
melhora muito grande na qualidade do produto". Outra vantagem
é o aumento da capacidade de extração: colheita
a cada quatro anos de cultivo na palmeira australiana contra uma
média de sete anos nas outras espécies.
O
Brasil é hoje o quarto exportador mundial de palmito em
conserva, depois de perder mercado para Peru, Equador e Venezuela.
Apesar de ainda ocupar uma posição importante, a
maior parte da produção nacional é destinada
ao mercado interno. Por isso, a importância de alternativas
de espécies cultiváveis como a palmeira real que
têm características sensoriais muito próximas
a das outras espécies aceitas pelo paladar do brasileiro.
"A palmeira australiana era utilizada no Brasil praticamente
apenas para ornamentação. Hoje já existem
alguns cultivos no sul do país para retirada do palmito",
conta a pesquisadora.
É
bom lembrar que as posições de destaque no mercado
mundial e grande consumo interno foram possíveis através
do extrativismo da palmeira jussara da Mata Atlântica, que
após 40 anos de extração foi quase extinta.
Cada árvore de palmital cortada demora em média
sete anos para crescer e rende apenas um vidro de 300 gramas de
palmito. A retirada da jussara passou a ser considerada crime
ambiental, o que ainda não ocorre para o açaí,
predominantemente retirado da Mata Amazônica e da Ilha do
Marajó (Pará). "A viabilidade para o cultivo
e extração de palmito de tipos diferentes dos nativos
como a palmeira real australiana busca justamente evitar a devastação
das nossas matas, como já ocorreu na Mata Atlântica
e agora está ocorrendo na Amazônica", enfatizou.
Também
faz parte do projeto desenvolvido pelo Ital a criação
de novos produtos para agregar valor às partes do palmito
que não são comercializadas em toletes em conserva
tradicionais. Entre eles, estão sendo desenvolvidos recheios
prontos para consumo para tortas e pastéis e uma sopa.
"Esses produtos eram vendidos a baixo custo e agora poderão
ser usados para fazer produtos por maior valor agregados e já
processados", afirma Berbari.
Faltam
ainda estudos relacionados à melhoria no cultivo e rendimento
da palmeira real para viabilizar a produção em escala
industrial. "Mas, do ponto de vista de industrialização
e das características sensoriais, o palmito da palmeira
real australiana se mostrou totalmente adequado", conclui.