Desafios
antigos ainda precisam ser
superados por museus de ciência
Há
36 anos os centros de ciências davam seus primeiros passos nos Estados Unidos,
mas ainda hoje há desafios a serem superados. A maioria dos mais de 700
disponíveis em todo mundo ainda é voltada para o público
jovem e segue o modelo norte-americano que não dá ênfase para
as problemáticas e interesses regionais. "Muitas vezes me pergunto
onde está a ciência em um centro de ciência", confessou
Silvia Singer, do Espaço Cultural e Educativo Betlemitas do México
durante o IV Congresso Mundial de Centros e Museus de Ciência que terminou
no último dia 14 de abril, no Rio de Janeiro.
Entre
as maiores críticas sobre as exposições nessas instituições
é a de que, freqüentemente, a ciência é equiparada à
diversão, certamente motivando os pequenos visitantes a apertarem botões
e a participarem das atividades como quem está em um parque de diversões,
mas deixando o conhecimento e até a aprendizagem para segundo plano. "Nosso
papel não é competir com o Nintendo", reforçou a palestrante
mexicana referindo-se a um tipo de jogo eletrônico. Para ela, a ciência
precisa apresentar ao público a motivação que alimenta o
trabalho do cientista, as discussões e as controvérsias ao invés
de mostrar apenas os resultados e conclusões finais. Apesar do grande número
de museus e centros que tratam de assuntos científicos, Singer acredita
que os que se dedicam à arte e história, ainda tem mais apelo junto
ao público. Atualmente, os estudantes são os maiores freqüentadores
das instituições que exibem a ciência em suas exposições,
como fruto de convênios locais.
Emlyn
Koster, CEO do Centro de Ciência Liberty, nos Estados Unidos, apesar de
otimista em relação ao andamento das instituições,
pontuou que ainda é preciso trabalhar para também engajar o público
adulto. "A forma de mudar a sociedade é por meio do engajamento dos
jovens e das pessoas que não mais freqüentam as escolas", justificou.
Temas de interesse é que não faltam: os avanços na decodificação
do genoma, o desenvolvimento em nano-escala, a convergência da TV com o
computador, e os problemas que emergem das epidemias globais, da mudança
climática e da ocorrência das maiores taxas de extinção.
"Há mais conhecimento científico e know-how do que nunca;
vivemos em tempos incríveis", afirmou.
Embora
as questões sejam universais foi recorrente a preocupação
com a globalização das exposições. Os especialistas
enfatizaram que é preciso valorizar a diversidade cultural local e integrar
a comunidade para fortalecer o papel dos centros e museus de ciência, ao
contrário da tendência mundial de se reproduzir a receita norte-americana.
Julia Tagüeña, diretora-executiva da Rede de Popularização
da Ciência e da Tecnologia na América Latina e Caribe (Rede Pop),
acredita que os profissionais dessas instituições precisam aplicar
um conceito que nomeou de Glocal, uma combinação das prioridades
global (globalizado) e local - palavras que se escrevem da mesma forma em português,
espanhol, inglês e francês, ressaltou.
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