Pequenos
produtores mais competitivos
no agronegócio
O agronegócio brasileiro, responsável por 40% das exportações
do país, segundo o Ministério de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, geralmente é associado aos grandes produtores, como os de
soja, no Mato Grosso, ou de laranja, em São Paulo. A Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), através de algumas de suas unidades
no país, vem trabalhando para que pequenos produtores ligados à
agricultura familiar também possam ter competitividade nesse mercado, desenvolvendo
e adaptando tecnologias, realizando programas de capacitação de
agricultores, incentivando o associativismo e aliando aumento de renda das famílias
à conservação ambiental.
Ao promover a troca de toda
a diretoria da Embrapa, em janeiro deste ano, o próprio ministro da Agricultura,
Roberto Rodrigues, a quem a instituição de pesquisa é subordinada,
divulgou uma nota oficial afirmando que o objetivo dessa mudança seria
fortalecer o agronegócio como um todo, envolvendo não apenas a atividade
empresarial agrícola como também a agricultura familiar (leia notícia
sobre o assunto). "Frequentemente, a mídia se refere ao agronegócio
e à agricultura familiar como maneiras antagônicas de ocupação
e uso das terras agricultáveis", afirma Sérgio da Cruz Coutinho,
pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. "Pequenos
agricultores reunidos e devidamente assessorados e treinados, terão condições
de competir com empresas de maior porte", esclarece.
Uma das iniciativas
da Embrapa nesse sentido surgiu a partir de trabalhos para conservação
dos recursos genéticos remanescentes da Mata Atlântica, através
do Banco Genético do Pau-Brasil, que fica no sul da Bahia e é cercado
por dois assentamentos de trabalhadores rurais. Para a conservação
do acervo genético, os pesquisadores concluíram que, a longo prazo,
seria necessário um trabalho minucioso com as populações
das micro-bacias hidrográficas para oferecer alternativas às atividades
predatórias que os trabalhadores rurais praticavam e evitar a contaminação
das águas dessas micro-bacias.
Em reuniões com pequenos e
médios agricultores dos assentamentos próximos ao Banco Genético
e de outros municípios, verificou-se que as culturas normalmente plantadas
na região e a pecuária leiteira necessitavam de novas tecnologias
para aumentar a produtividade, melhorar a qualidade de vida dos agricultores e
conservar os recursos ambientais. Além dessa demanda por novas técnicas,
o maior problema apontado nessas reuniões foi a comercialização
dos produtos.
"O tradicional método de venda individual da
produção [de leite] em feiras e mercados dos municípios próximos,
ocupa muito tempo dos produtores, remunera mal e frequentemente leva à
perda parcial, ou até total, dos produtos", explica Coutinho. Uma
das soluções encontradas para o problema foi estruturar uma mini-usina
de leite criada pela Associação dos Posseiros e Moradores do Imbiruçu
de Dentro, que estava desativada, para que ela funcionasse como uma espécie
de entreposto para receber, pesar e classificar a produção leiteira,
além de produzir leite pasteurizado e ensacado, manteiga, iogurte e queijo.
A
Embrapa Gado de Leite indicou o Instituto de Laticínios Candido Tostes,
de Minas Gerais, para avaliação do projeto e recomendação
de soluções. Até então, o leite dos pequenos produtores
assentados era distribuído sem qualquer tratamento, diretamente do latão
de armazenamento para o consumidor. Agora, com a reforma baseada no relatório
do instituto mineiro, a mini-usina está apenas esperando a licença
para funcionamento, mas já conta com uma cooperativa para administrá-la
e um rótulo com a marca Nativo para a comercialização do
leite e seus derivados.
As melhorias na atividade dos pequenos produtores
não ficarão restritas ao produto final. "Para o funcionamento
eficiente do conjunto, a produção leiteira deverá ser aperfeiçoada,
desde a formação de pastagens e capineiras, até o melhoramento
e manejo do rebanho, condições de ordenha e transporte", diz
Coutinho. "Dispondo das técnicas necessárias e capacitação
dos produtores e operadores da mini-usina, esta unidade terá plena condição
de competir no mercado de leite e derivados", conclui.