Ministério da Educação lança conjunto de medidas
voltadas para o ensino básico
O
Ministério da Educação (MEC) anunciou, no último dia
14 de março, um conjunto de medidas voltadas para o ensino básico
que visam melhorar a formação de professores do ensino fundamental
e médio, a infra-estrutura escolar e aumentar a vinculação
orçamentária para a educação na Constituição,
de 18% para 22,5 %. Embora seja uma boa notícia, as medidas contêm
pontos polêmicos, como um plano emergencial para conter o déficit
de cerca de 200 mil professores para as áreas de química, física,
biologia e matemática. O Mec também anunciou a intenção
de contratar professores afastados de sala de aula e, se necessário, universitários
no final da graduação e profissionais de áreas afins.
Segundo o pesquisador Zacarias Pereira Borges, da Faculdade de Educação
da Unicamp, a prática de suprir a falta de professores com estudantes ou
outros profissionais já é feita há muito tempo, mesmo antes
da autorização do governo. Para o pesquisador, que trabalhou 34
anos como Professor, Diretor, Supervisor e Delegado de Ensino na rede estadual
de São Paulo, a prática ilustra um dos grandes problemas do ensino
público. "A rotatividade de professores na escola pública é
gritante e não é apenas nas disciplinas mencionadas pelo governo",
afirma. Ele afirma que a regulamentação para contratação
de alunos não é um problema, pois uma "autorização
para lecionar" do Diretor substitui emergencialmente o diploma de licenciatura
correspondente às aulas atribuídas.
Borges também
critica as iniciativas voltadas para a formação do professor, que
envolverão um montante de R$ 390 milhões e serão implementadas
através de dois programas. O primeiro deles, o Pró-Licenciatura,
prevê a realização de cursos de formação para
150 mil professores de 5ª a 8ª séries que já atuam na
rede pública. Ele será viabilizado com a participação
das universidades, envolvendo o repasse de R$ 270 milhões até 2007.
Já o Pró-Letramento envolverá cerca de R$ 120 milhões
e será voltado para os professores de 1 ª a 4 ª séries.
A meta é formar, até 2007, cerca de 400 mil professores de português
e matemática, áreas em que os estudantes recentemente avaliados
pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica
(Saeb) apresentaram problemas. Para o professor da Unicamp, a iniciativa é
pequena em relação às necessidades. "Não vejo
eficácia em programas e projetos de alcance eleitoreiro, que terminem antes
de fim de mandatos e atendam a tantos ou tantos mil professores".
Outro item das medidas do MEC diz respeito ao investimento de R$ 75 milhões,
em 2005, na melhoria da infra-estrutura escolar, incluindo compra de móveis,
equipamentos e reformas na estrutura física. O dinheiro virá do
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Além
disso, foi anunciado o início do programa denominado Agenda de Qualidade
para a Educação Básica, que prevê o repasse de
cerca de R$ 470 milhões para estados e municípios, cuja aplicação
ainda será discutida com a União Nacional dos Dirigentes Municipais
de Educação (Undime) e com o Fórum Nacional dos Conselhos
Estaduais de Educação (Consed).
Mais recursos
Um dos principais destaques das medidas anunciadas pelo Governo é o encaminhamento
de um projeto de emenda constitucional que altera a vinculação orçamentária
estabelecida pela Constituição Federal para a área de ensino,
aumentando-a gradativamente de 18% para 22,5%, nos próximos quatro anos.
O projeto visa superar um impasse com a área econômica do governo
federal, que tem se valido de um instrumento técnico para reter as verbas
de vários Ministérios, inclusive o da Educação. A
área econômica utiliza a chamada Desvinculação das
Receitas da União (DRU), que permite ao governo reter 20% da arrecadação
total, o que diminui o montante a ser dividido entre os ministérios. Com
a emenda, só o Ministério da Educação quer compensar
a perda anual de cerca de R$ 4 bilhões devido a DRU. O MEC afirmou que
a medida já se encontra na Casa Civil e deve ser enviada ao Congresso até
o final do mês. A previsão é que, com o aumento progressivo
da vinculação dos recursos federais a Educação, seja
atingido o montante de R$ 4,3 bilhões até o final dos quatro anos.
Além do aumento de recursos, a medida visa viabilizar o novo Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
e Valorização dos Profissionais em Educação (Fundeb),
que deve financiar todo o Ensino Básico, incluindo o Ensino Médio
e a pré-Escola, em substituição ao Fundef, restrito ao Ensino
Fundamental. Segundo o Ministro Tarso Genro, os R$ 470 milhões que serão
repassados aos Estados são o "Fundebinho", um ensaio de repasses
maiores que devem ocorrer após a aprovação da emenda constitucional
de alteração dos recursos vinculados à Educação.
Para Zacarias Borges, a política de fundos para a educação
não deixa de ser importante, porque canaliza recursos de forma precisa.
No entanto, a implementação exige alguns cuidados. "O Fundef
ainda não cumpriu sua missão e suas ações precisam
ter continuidade, mesmo que se crie o Fundeb", afirma. De acordo com ele,
o Fundef aumentou o número de matrículas e diminuiu a evasão,
mas ainda não melhorou as condições de trabalho do professor,
que continua sendo uma das profissões mais desvalorizadas do país",
completa.
No
último dia 28, o ministro da Educação, Tarso Genro, declarou
que opresidente Lula já teria batido o martelo em relação
à proposta de emenda constitucional que viabilizaria o Fundeb. No entanto,
no dia seguinte, o ministro Antonio Palocci declarou que não sabe se existirão
recursos disponíveis para tal objetivo, deixando claro que não existe
consenso do governo em torno da questão.