MCT promove discussão sobre transformação
de conhecimento
em riqueza
Foi realizada nos dias 22 e 23 de março, em Brasília, a reunião
temática sobre Geração de Riqueza, um dos cinco temas tratados
nas reuniões preparatórias para a III Conferência Nacional
de Ciência, Tecnologia e Inovação, programada para outubro.
O objetivo desta reunião, assim como as dos demais temas - inclusão
social; áreas de interesse nacional; presença internacional e gestão
e regulação - é levantar os principais pontos para uma discussão
mais aprofundada durante a Conferência, visando estabelecer estratégias
para que Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) possam
contribuir mais efetivamente para o desenvolvimento do país.
Os
temas enfocados na reunião, organizada pelo Centro de Gestão de
Estudos Estratégicos, ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia,
têm sido tratados há vários anos. Entre eles, o fortalecimento
de cultura empreendedora, financiamento à pesquisa e desenvolvimento (P&D),
investimentos dos setores público e privado em P&D, geração
de patentes e a situação do desenvolvimento tecnológico do
Brasil frente a outros países. Apesar de antigo e de alguns avanços
conquistados nessa discussão, ainda há muito a fazer.
As
histórias de mais sucesso no desenvolvimento de inovações
no país - a exploração de petróleo em águas
profundas pela Petrobras; a produção de aviões pela Embraer,
e o desenvolvimento de variedades agrícolas importantes pela Embrapa, foram
citadas em várias apresentações. Mas outros casos menos conhecidos
foram apresentados. Entre eles está o da subsidiária brasileira
da General Motors, que desenvolveu o carro Meriva adaptado para outros mercados
e que será exportado. Outro exemplo é o da Gerdau, que vem adquirindo
siderúrgicas fora do país, com vantagem sobre seus competidores
devido a sua capacidade de inovar na forma de administrar a empresa.
Os palestrantes - representantes do setor acadêmico, do setor empresarial
e de órgãos governamentais - apresentaram o Brasil como um ambiente
capaz de desenvolver um número maior de inovações e também
de receber mais investimentos de multinacionais para desenvolver P&D internamente,
graças a iniciativas anteriores de fortalecimento do sistema de C&T
do país. Entre elas está a criação da pós-graduação,
que permitiu que ao país atingir a marca de mais de seis mil doutores titulados,
em 2002, e os institutos de pesquisa públicos, criados com uma missão
bem focada e apoio institucional constante. Além dessas iniciativas, pode-se
apontar a ação de programas mobilizadores, que objetivam a criação
ou ampliação do potencial nacional em áreas específicas
científicas e tecnológicas como forma de desenvolver os setores
econômicos, sociais e/ou militar. Esses programas conseguiram aperfeiçoar
o sistema de qualidade do produto e dos processos de produção no
Brasil, o que vem garantindo a participação de produtos nacionais
em mercados no exterior, e aproximar o setor empresarial e a universidade.
Mas isso não é o bastante. O objetivo hoje é gerar mais
inovações, para o que João Alziro da Jornada, presidente
do Inmetro, chamou de terceira fase da industrialização brasileira.
Para isso, ele e outros participantes do evento acreditam que é necessário
estabelecer condições que atraiam investimentos em pesquisa e desenvolvimento
por parte do setor industrial (nacional e estrangeiro), ainda temeroso em aplicar
recursos na atividade inovativa. Deve-se também conseguir um apoio governamental
maior, não apenas em forma de investimentos diretos, mas por medidas institucionais.
A Lei de Inovação, por exemplo, aprovada em dezembro do ano passado
e que deverá ser regulamentada em abril, é uma grande esperança
para todos os setores envolvidos no sistema de C,T&I. A renúncia fiscal,
os fundos setoriais, a política industrial, a criação da
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), foram apontados
como outros exemplos de mudanças institucionais, estimuladoras desse ambiente
que se pretende criar para desenvolver mais inovações.
Para os institutos públicos de pesquisa, foram sugeridas a análise
de competências de cada um deles e a procura de competências complementares,
que podem ser desde a profissionalização da gestão à
maior atenção em relação à divulgação
das atividades desenvolvidas nestes institutos. Também merecem atenção
especial as questões ligadas à propriedade intelectual e transferência
de tecnologia, a operação dos institutos e seus pesquisadores em
redes, com vistas a ganhar escala e conseguir novos contratos e outras vantagens.
Programas mobilizadores
A idéia de programas mobilizadores,
a exemplo de outros bem sucedidos no país, foi amplamente debatida, com
sugestões de que devem ser ampliados e até desenvolvidos no setor
privado com apoio público. Alguns programas recentes, gerados fora do Brasil,
foram apresentados por Waldimir Pirró e Longo, professor da Universidade
Federal Fluminense, tais como o de nanotecnologia, de hidrogênio e o de
veículos aéreos não tripulados. Ele recomenda a descoberta
de nichos competitivos para o desenvolvimento desses programas no país,
que devem ser criados com a participação de indivíduos, institutos
de pesquisa e empresas, de forma cooperativa. Para tanto, devem-se utilizar, intensamente,
incentivos fiscais e não fiscais, uma vez que tais iniciativas permitem
importantes mudanças de âmbito social e econômico, além
do desenvolvimento setorial, regional e nacional.
O material preparado
durante as reuniões temáticas irão subsidiar as próximas
reuniões preparatórias, regionais, que acontecerão em agosto
em Belo Horizonte, Florianópolis, Recife, Manaus e Campo Grande e, posteriormente,
na Conferência Nacional. Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho,
secretário da III Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia
e Inovação, destacou que todo o material
produzido e as discussões realizadas nessas reuniões temáticas
será compilado em cinco volumes. "Vale lembrar que outubro será
o mês da ciência, tecnologia e inovação, pois de 3 a
9 será a Semana Nacional de C&T e, em seguida, do dia 24 ao 27, vai
acontecer a Conferência Nacional de C,T&I", comemora Aragão.