Encontro discute políticas territoriais para Amazônia internacional
Há muito tempo a geografia deixou de ser uma ciência meramente descritiva,
com uma função apenas de acumular informações sobre
uma determinada região ou país. A nova geografia ou a geografia
crítica estuda as relações entre a sociedade e o espaço,
as transformações no espaço empreendidas pela sociedade através
do trabalho e a intencionalidade por trás dessas ações. Foi
nesse sentido que aconteceram as discussões sobre os conflitos e as políticas
territoriais da floresta amazônica na mesa redonda de hoje (23) do 10º
Encontro de Geógrafos da América Latina (Egal). A mesa, composta
por Luis Eduardo Aragon (UFPA), Camilo Dominguez (UNC – Colômbia),
Lia Osório Machado (UFRJ) e Delphina Fighera (ULA – Venezuela), discutiu
temas que se estenderam desde os aspectos da geografia física da Amazônia
como a delimitação de seu limite total e seus limites em cada país,
suas bacias hidrográficas e seus recursos minerais, até os aspectos
populacionais.
A
professora Delfina Fighera, da Universidade Los Andes (Venezuela) expôs
a desorganizada densidade populacional daquele país. Com uma população
de aproximadamente 27 milhões de habitantes, a fronteira sudeste do território
venezuelano, com os estados de Roraima e Amazonas (norte do Brasil), tem uma concentração
de aproximadamente um habitante por quilômetro quadrado, ao passo que na
fronteira do Mar do Caribe, ao norte da Venezuela, concentra cerca de 87% da população
desse país. “A política externa é determinada pela
forma que cada governo lida com as questões das relações
internacionais. Historicamente a Venezuela olhou para o tipo de desenvolvimento
dos países do norte. Chavez [atual presidente da Venezuela] tem tentado
mudar esse olhar, do norte para o sul, através da construção
de sistemas de engenharia, ou seja, estradas, aeroportos e núcleos universitários”,
explica Fighera. Uma maior atenção no que tange as políticas
territoriais é uma forma de alterar a herança da estrutura colonial
do território, herdada pelos países do sul.
Territórios
e territorialidades na fronteira internacional
Nesse sentido, desenvolveu-se
a fala da professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Lia Osório
de Machado. Para ela, a região da fronteira internacional da Amazônia
não é vitima do imperialismo exercido pelos Estados Unidos, mas
os conflitos existentes na região são, um problema que ela chamou:
América do Sul/América do Sul. “Não adianta colocar
o inimigo como sendo de fora, o inimigo está dentro. Os interesses hegemônicos
não podem mascarar os interesses internos, sobretudo o petróleo”,
afirma.
Machado
apresentou uma proposta de criação de três arcos para se pensar
a política territorial da Amazônia brasileira. O Arco Norte, o Arco
Central e o Arco Sul. Segundo Machado, com um escala definida de ação
passa-se a pensar a interpenetração da segurança externa
– soberania, marcada pelas bases do exército brasileiro no território
amazônico e a segurança interna – redes de vigilância
que se preocupariam em exercer os problemas relacionados com a biopirataria, deslocamentos
populacionais, ilícitos, frente madeireira, entre outros. Para ela, a rede
de vigilância do Brasil é pobre, mas uma das bases tecnológicas
mais bem desenvolvidas, quase igual aos Estados Unidos. “Isso permite que
o Brasil tenha seu próprio sistema de defesa, impedindo a intervenção
militar direta do Estados Unidos em seu território. Países como
Equador, Bolívia e Colômbia, convivem com uma base militar norte-americana
em seus territórios”, disse.
Para
a professora, o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), foi uma
forma inteligente de se pensar a segurança do território nacional,
sem se intregar totalmente aos Estados Unidos. Porém, ela critica a forma
de difusão das informações geradas pelo SIVAM. “Os
pesquisadores são a força de produção de novos conhecimentos
e, para isso, é fundamental a difusão das informações
geradas pelo SIVAM”, conclui.
O
EGAL ocorre até o dia 25 de março, na Universidade de São
Paulo (USP).