MEC
reforça a participação dos índios na produção
de materiais didáticos
Professores indígenas de todo o país, além de técnicos
das secretarias estaduais de educação e de organizações
não-governamentais, participaram do 1º Seminário Nacional do
Material Didático Indígena, realizado pelo Ministério da
Educação (MEC), em Brasília no mês de março.
No evento, foram apresentadas experiências positivas, como as rádios
comunitárias existentes em algumas aldeias, e negativas, como a dificuldade
de se trabalhar com materiais didáticos que não valorizam as experiências
culturais de cada etnia. O MEC se comprometeu a apoiar a produção
de novos materiais didáticos que valorizarão a cultura oral indígena
e que os próprios índios ajudarão a elaborar.
Os
pontos de partida das discussões no Seminário foram os artigos 78
e 79 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Eles asseguram
que a educação indígena ofereça, além dos principais
aspectos da cultura ocidental, ou seja, da cultura do não-índio,
um ensino que valorize os conhecimentos tradicionais dos povos indígenas,
suas práticas culturais e suas línguas. Professores e líderes
indígenas como o Xavante Lucas Roriô, de Mato Grosso, e o Macuxi
Fausto da Silva, de Rondônia, se queixaram da forma como o índio
e sua cultura aparecem nos materiais didáticos tradicionais e nos programas
educacionais em geral.
De
acordo com Kleber Gesteira, coordenador-geral de Educação Escolar
Indígena da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização
e Diversidade (Secad/MEC), além de existir uma indústria do material
didático já consolidada, a qual não valoriza a cultura indígena,
o próprio MEC tem feito pouco nessa área. "O Seminário
veio marcar essa diferença: a decisão de produzir material didático
de autoria dos próprios índios, com valorização da
oralidade, através da reprodução de cânticos, discursos,
narrativas e rituais", afirma. Segundo Gesteira, o MEC, que já financia
materiais impressos específicos para os índios, como livros e cartilhas,
prevê investir em 2005 cerca de R$ 800 mil na produção de
materiais audiovisuais, como vídeos, CDs e fitas cassete, e também
de materiais gráficos como mapas e cartazes.
"A
escola é o espaço da comunicação, aprendizado e difusão
da escrita, mas a oralidade é importante para qualquer cultura", defende
o coordenador-geral de Educação Escolar Indígena. "Mesmo
em um grande centro, como São Paulo, uma escola situada em plena Avenida
Paulista pode trabalhar com rituais de oralidade", completa. E para os povos
indígenas, de cultura tradicionalmente oral, essa importância é
ainda maior. "Nossos antepassados passavam a cultura por meio do diálogo.
Há uma tradição dos povos indígenas em absorver o
conhecimento oralmente", reforça o professor indígena Xavante.
A
maior dificuldade, em termos de infra-estrutura para utilização
desse material audiovisual que será produzido com o apoio do MEC, é
o uso de TV e vídeo. Gesteira informa que 400 das mais de 2 mil escolas
indígenas do país já têm esse recurso, e os próprios
professores indígenas possuem aparelhos de som que tocam CD ou cassete.
"Quando não há o aparelho na escola, é possível
que haja na casa comunitária, na casa do cacique ou no posto da Funai",
esclarece.
O
coordenador-geral de Educação Escolar Indígena também
destaca o projeto da Secretaria de Educação a Distância do
MEC que inseriu em algumas aldeias do Norte e do Centro-Oeste a Rádio Escola.
Trata-se de uma rádio comunitária de baixa potência, com alcance
apenas nos arredores da aldeia, na qual os programas produzidos pelos próprios
índios e voltados para os índios, além de fortalecer a sua
cultura, também são destinados a serviços de interesse da
comunidade, como programas de prevenção de saúde, por exemplo.
O
Seminário realizado pelo MEC começa a consolidar políticas
do governo federal que já apontavam, em 2004, o esforço para o cumprimento
da Lei de Diretrizes e Bases em relação à educação
indígena. Em novembro do ano passado, o MEC criou duas comissões
nessa área: uma para fortalecer a formação de professores
indígenas em nível superior e outra para apoio e incentivo à
produção e edição de material didático específico
para os indígenas (leia notícia
sobre o assunto).