Clínicas e hospitais oferecem tratamento com células
tronco sem autorização
A
recém aprovada Lei de Biossegurança, que aprovou
a pesquisa com células-tronco cultivadas de embriões
de clínicas de fertilização congelados há
mais de três anos, fortaleceu ainda mais as esperanças
daqueles que sofrem de males para os quais, atualmente, não
existe cura. Na Índia, estas promessas têm ultrapassado
as barreiras das instituições de pesquisa e chegado
até mesmo às clínicas de estética,
de forma descontrolada. Os casos relatados na Índia, pela
revista científica Nature
e pelo jornal Times Índia, e na Rússia, pela
Wired,
são no mínimo alarmantes. No Brasil, o pedido de
pesquisas com células-tronco é analisado caso a
caso pelo conselho de ética das instituições
onde se pretende desenvolver a pesquisa.
Na Índia, mesmo sem uma regulamentação e
fiscalização adequadas, clínicas públicas
e privadas tem vindo a público relatar a utilização
de células-tronco para tratar uma ampla gama de doenças.
As células são extraídas da medula óssea,
sangue de cordão umbilical e embriões humanos. O
instituto privado Prasad Eye Institute, localizado na cidade de
Hyderabad, por exemplo, está utilizando essas células
no tratamento de aproximadamente 240 pacientes com problemas de
córneas. Dois outros hospitais da mesma cidade preferiram
a aplicação para amenizar problemas no músculo
cardíaco, e há planos do uso das células-tronco
por outras instituições no tratamento de fígado
de pacientes que sofrem de cirrose, câncer de pâncreas
ou diabetes.
A
Nature declara que o cirurgião Panangipalli Venugopal,
do All Índia Institute of Medical Sciences (AIISM), e seus
colegas usaram células-tronco derivadas da medula óssea,
para tratar danos cerebrais, distrofia muscular e derrame, sem
nunca terem publicado o trabalho em jornais científicos
com revisão por pares. Venugopal, que é considerado
um dos maiores cardiologistas do país, afirmou que seu
interesse pelas células-tronco surgiu quando sua equipe
passou a buscar alternativas aos tratamentos cardíacos.
"Doadores eram difíceis de serem encontrados. Muitas
vezes os pacientes eram medicados e não havia mais nada
que pudéssemos fazer para salvá-los", ele declarou
à Times
indiana.
Uma das explicações encontradas para o que tem ocorrido
na Índia é a falta de articulação
entre o Conselho de Pesquisa Médica Indiano (ICRM, sigla
em inglês), ligado ao Ministério da Saúde,
e o Departamento de Biotecnologia (DBT), ligado ao Ministério
da Ciência, que lançaram diretrizes diferentes sobre
a pesquisa e a utilização desses tipos de células.
Em 2002, o ICRM, anunciou uma política
que permitia a clonagem terapêutica e encorajava a pesquisa
com células-tronco, sendo que no ano anterior, o DBT emitiu
outras diretrizes. Essa brecha foi explorada por algumas clínicas
para começar a investida em novos tratamentos, cujos estudos
clínicos e resultados estão fugindo ao controle
das autoridades responsáveis. Para se ter uma idéia
da situação, o Conselho de Pesquisa Médica
daquele país foi informado dos tratamentos conduzidos por
Venugopal no AIISM, por meio de suas declarações
no jornal.
Na Rússia o caso parece ser tão grave quanto o da
Índia. Inúmeras clínicas e salões
de beleza estariam usando células-tronco adultas e embrionárias
para tratar desde rugas até o mal de Parkinson ou impotência.
Os tratamentos anunciados custam verdadeiras fortunas e são
feitos sem qualquer fiscalização ou regulamentação,
já que não existem licenças para injetar
células-tronco como prática médica. Não
há provas de que o que está sendo injetado são
realmente células-tronco. Atualmente o Serviço Federal
de Inspeção da Saúde está investigando
aproximadamente 20 clínicas russas que assumem a prática
de terapias com essas células.
A
Universidade de Minessota, nos EUA, montou o mapa
das nações onde a pesquisa com células-tronco
é permitida, flexível e proibida. A Índia,
China, Inglaterra e Japão aparecem entre os países
mais liberais, onde a clonagem terapêutica também
é permitida. Enquanto o Brasil, ao lado dos EUA, Canadá,
França e Espanha, são alguns dos que permitem essas
pesquisas com restrições.
No
Brasil, inúmeras pesquisas com células-tronco em
pacientes já foram iniciadas e, algumas já apresentaram
resultados bastante animadores. Um destes casos são as
pesquisas que o Instituto do Coração (Incor) de
São Paulo realiza com aplicações diretas
de células-tronco em pacientes com insuficiência
cardíaca, causada por doença de Chagas, hipertensão
ou de origem desconhecida. Geralmente, os pesquisadores dão
preferência para estudos que contem com a participação
voluntária de portadores de doenças graves, com
pouca expectativa de vida.
Em
fevereiro deste ano o Brasil iniciou o maior estudo clínico
do mundo com células-tronco. Participarão do estudo
1.200 pacientes e mais de 40 instituições de pesquisa,
com o objetivo de comprovar os resultados já obtidos em
pesquisas isoladas e verificar a viabilidade da substituição
dos tratamentos cardíacos tradicionais (inclusive o transplante
de coração) pela terapia com células-tronco.
Para saber mais na ComCiência:
- Em
meio à discussão ética, a pesquisa avança
em todo o mundo
- Pesquisa
brasileira em CT já apresenta resultados
Em
outras publicações:
- The
research is a miracle of sorts
- Indian
medical breakthrough in life-saving stem cell therapy