Brasil pode auxiliar na prevenção da vaca louca
A
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen) quer
tornar disponível para produtores do Brasil e do exterior,
um novo método de identificação da Encefalopatia
Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como mal da vaca louca, por
meio de análise da ração animal utilizada na
alimentação dos rebanhos. A tecnologia foi desenvolvida
em 2000 pela equipe do pesquisador Carlos Bloch Júnior e
a intenção é auxiliar no monitoramento da qualidade
da ração e evitar a contaminação dos
animais.
Segundo
Bloch Júnior, essa nova metodologia explora as características
de alta sensibilidade da espectrometria de massa MALDI-TOF para
determinar se existem proteínas animais, mais prováveis
responsáveis pela doença da vaca louca, nas rações.
Nessa técnica, as moléculas proteicas ou seus fragmentos
(peptídeos) presentes na amostra são identificadas
a partir de extração com uma mistura de solventes
aquoso-orgânicos e, se necessário, seqüenciadas
para comparação com um banco de dados previamente
elaborado.
O
pedido de patente da metodologia foi depositado em 2002, junto ao
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), com o nome
de "Processo de Identificação de Proteína
de Origem Animal". O método já pode ser licenciado
através da Embrapa/Cenargen, sendo que o preço para
adquirir a metodologia varia conforme a quantidade de amostras realizadas
por dia. Segundo o diretor de negócios da Cenargen, Arthur
Mariani, o custo dos aparelhos necessários também
é muito alto, o que pode dificultar a obtenção
dessa tecnologia. A qualidade técnica do método já
está sendo testada em vários países, mas ainda
aguarda a aprovação de órgãos competentes.
A
Embrapa já está prestando serviço para esse
tipo de análise, tendo como maiores clientes as indústrias
produtoras de rações e os seus respectivos fornecedores
de componentes, as empresas de importação, exportação,
o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa) e as Secretarias Estaduais de Agricultura. O custo para realizar
a análise é de US$ 80 por amostra, sendo necessário
apenas uma pequena quantidade, ou um microlitro. O resultado sai
em um minuto.
Os
laboratórios de referência animal do governo, responsáveis
pelos testes para certificação de isenção
de proteína animal nas rações, ainda não
utilizam a nova tecnologia, recorrendo o Mapa e as Secretarias Estaduais
de Agricultura diretamente à Embrapa quando necessitam realizar
esse tipo de análise. "Essa é uma decisão
política e depende da perspectiva de mercado" reflete
Carlos Bloch. Para o pesquisador, a total garantia de segurança
alimentar, tanto da carne consumida no mercado interno quanto da
carne exportada, só seria possível com o rastreamento
das rações, onde cada lote produzido seria analisado.
Para isso, é necessário também uma maior fiscalização
e regulamentação do governo brasileiro, tornando obrigatória
a coleta de amostras de ração para análise.
Bloch
Júnior afirma que a técnica surgiu quando o Canadá
acusou o Brasil de não oferecer garantias quanto à
doença da vaca louca. Na verdade, o conflito era de ordem
comercial, por causa da vantagem brasileira no mercado de aviões,
mas para assegurar as exportações de carne, o então
ministro da agricultura, Pratini de Moraes, solicitou à Embrapa
o desenvolvimento de uma metodologia que detectasse a EEB e livrasse
o
Brasil do embargo canadense.
O
mal da vaca louca surgiu na Europa, em 1986, devido ao uso de carne,
ossos, sangue e vísceras na complementação
ou suplementação proteica de ração.
A doença já dizimou rebanhos na Europa e em 2003 apareceram
novos casos no Canadá e nos EUA.
No
Brasil, é pequena a chance de ocorrer o mal da vaca louca,
pois grande parte do rebanho é alimentada com pastagens e,
além disso, desde 1999, o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Mapa) proíbe o uso de proteína
animal nas rações.
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