Livro traz metodologias para a criação de indicadores
de sustentabilidade
Toda
a atividade humana, incluindo a agricultura, pode levar a uma degradação
ambiental. As atividades podem ter maiores ou menores impactos,
dependendo da forma que são realizadas. Saber que caminhos
tomar e quais decisões podem ser mais ou menos impactantes
para o ambiente é um dos objetivos de se criar indicadores
de sustentabilidade de um sistema. Pensando nisso, um grupo de pesquisadores
da Embrapa organizou o livro Indicadores de sustentabilidade em
agroecossistemas, em que apresentam uma proposta metodológica
para o desenvolvimento desses indicadores.
Segundo
José Maria Ferraz, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e
um dos editores do livro, a proposta surgiu a partir de um trabalho
que envolveu mais de 35 pesquisadores, em quatro anos de projeto.
A pesquisa foi realizada em três microbacias hidrográficas,
uma no Paraná, uma em Minas Gerais e outra em São
Paulo - a do Córrego Taquara Branca em Sumaré, na
qual livro foi baseado.
Um
dos pontos centrais foi a busca por metodologias que permitissem
o desenvolvimento de indicadores a partir das diferentes realidades
encontradas no campo. "Poucos indicadores podem ser considerados
universais" diz Ferraz. "Os indicadores de sustentabilidade
devem ser construídos respeitando-se a cultura local, assim
como as diferentes formas de saber dos grupos sociais envolvidos".
Esta é uma preocupação que está expressa
na Agenda 21, um dos documentos resultantes da ECO-92 e importante
ponto de referência para a discussão ambiental. No
capítulo desse documento referente à "Informação
para tomada de decisões" está enfatizada a necessidade
de cada país criar seus próprios indicadores de sustentabilidade
em função de sua realidade. Nesse sentido, os autores
afirmam a importância do "Diagnóstico Rural Rápido
Participativo", uma metodologia de trabalho com comunidades
rurais para o levantamento de problemas, dúvidas, caminhos
encontrados e soluções possíveis.
Indicadores
devem ser medidas da condição de determinados processos
e devem fornecer uma idéia confiável das condições
futuras do sistema a que se referem a partir de caminhos e decisões
tomadas em determinado momento. Tratando-se de sustentabilidade
de agroecossistemas é preciso pensar em um conjunto de indicadores
que incluam, além dos aspectos ambientais, os sociais e econômicos.
O livro traz, por exemplo, uma avaliação das perdas
físicas e econômicas causadas pela erosão no
solo e indicações de como essas perdas são
minimizadas com a incorporação de práticas
mais sustentáveis.
"Existem
indicadores locais, regionais e globais" acrescenta Ferraz.
"Globalmente, o índice de emissão de gases de
efeito estufa, aumento da temperatura, renda familiar, acesso à
saúde, escola, alimentação e terra são
alguns exemplos de bons indicadores de sustentabilidade". Esses
indicadores, segundo o pesquisador, devem ser acompanhados ao longo
do tempo para verificar se sua tendência é melhorar
ou piorar após a implementação de alguma mudança.
Além
dos índices acima citados, a perda de solo na agricultura
e a biodiversidade são indicadores que, para Ferraz, podem
ser considerados mais globais, comuns a todos os sistemas. Alguns
indicadores devem servir para que o próprio agricultor, localmente,
tenha condições de saber como vai a saúde de
seu solo, de sua economia, de sua família e escolher entre
suas práticas culturais tradicionais aquela que possa ser
utilizada para melhorar esses parâmetros. Por exemplo, a presença
de minhocas e outros macroinvertebrados pode indicar a qualidade
do solo o formato da raiz das plantas a compactação
do mesmo e algumas plantas indicadoras a presença ou ausência
de nutrientes nas áreas.
"Outros
indicadores podem ser utilizados pela comunidade por meio de associações
de bairro e cooperativas, outros pelo município para direcionar
políticas públicas; como o índice de cooperativismo
na região - que mostra o acesso à assistência
técnica para os agricultores - ou o número de intoxicações
e doenças endêmicas - que dão uma idéia
da saúde do trabalhador e o acesso à educação"
complementa Ferraz.
Livro "Indicadores de sustentabiliade em agroecossistemas".
João Fernando Marques, Ladislau Araújo Skorupa e José
Maria Guman Ferraz (editores). 282 páginas. Embrapa Meio
Ambiente.