Pesquisas sobre doenças tropicais ganham novo fôlego
Mudanças
no modelo de gestão no Programa Especial de Pesquisa e Treinamento
em Doenças Tropicais (TDR),
da Organização Mundial da Saúde (OMS), têm
ajudado a captar mais recursos para pesquisas sobre doenças
tropicais, como a malária, a dengue e a tuberculose, por
exemplo. Os resultados da administração mais dinâmica
ajudaram a dobrar o orçamento bienal do órgão
que passou para US$ 100 milhões. "Foi difícil
implementar as mudanças, mas hoje o Programa se mostra muito
mais dinâmico", afirma o coordenador dessa experiência,
Carlos Morel, diretor do TDR de julho de 1998 a dezembro de 2003,
coordenador científico do Centro de Desenvolvimento Tecnológico
em Saúde (CDTS) da Fiocruz, em implantação.
Entre
as principais mudanças, Morel destaca a adequação
do programa baseado em resultados - não mais em processos
-, investimentos que priorizam doenças que pedem mais atenção,
treinamento de pessoal e um acompanhamento mais próximo dos
projetos. "Depois de muita batalha, ainda conseguimos alterar
o número de doenças que trabalhamos, não mais
obedecer àquela prioridade imposta há 25 anos",
explica, referindo-se a doenças que tornaram-se um problema
de saúde pública, como a Aids, tuberculose e a dengue,
e outras que voltaram a fazer parte da realidade de alguns países.
Outra
alteração foi nas normas de captação
de recursos. "Acabamos com um teto que limitava a quantidade
de verba que podia ser alocada em uma área de pesquisa ou
doença e criamos um piso. Assim, nenhuma doença fica
de fora", completa. Foi facilitada também a entrada
de doações rotuladas, destinadas a projetos ou áreas
específicas. "Traçamos um mapa das prioridades
das doenças e com isso abrimos um leque maior de opções
para investimentos, sem distorcer as prioridades do Programa",
esclarece.
A
aproximação dos setores de pesquisa e controle de
endemias também colaborou para os atuais resultados do TDR.
Além da necessidade de definição e separação
de responsabilidades nos trabalhos realizados pelo órgão,
foi criada a área de "pesquisa de implementação"
para facilitar a introdução nos programas de controle
dos novos produtos desenvolvidos pelo setor de pesquisa. "Fazíamos
essas mudanças ou o programa acabava", lembra Morel.
Depois das transformações, os recursos voltaram a
fazer parte do orçamento do programa, escasso desde 1990.
O
TDR foi criado em 1975 por causa dos poucos investimentos em pesquisas
sobre doenças tropicais. Hoje, o órgão conta
com o co-patrocínio do Banco Mundial, da Unicef, da OMS e
do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas,
além de ser financiado por dezenas de países e instituições.
Entre os países beneficiados pelo TDR estão a Índia,
China, Nigéria, Brasil, África do Sul, Quênia,
além de alguns países desenvolvidos como os Estados
Unidos, a Itália e a Inglaterra, por exemplo. Segundo Morel,
boa parte da verba destinada às pesquisas vêm dos governos
de países desenvolvidos, principalmente dos escandinavos.
Cerca de 50% dos recursos são aplicados em países
em desenvolvimento, os outros 50% são aplicados em projetos
oriundos de países desenvolvidos.
Todos
os projetos do TDR, de acordo com Morel, são aprovados por
comitês independentes de áreas de pesquisa ou de áreas
de desenvolvimento presididos por profissionais que não pertencem
aos quadros do programa. Além disso, "a cada cinco,
sete anos, uma comissão externa independente, nomeada por
um dos comitês, formado por 50% de membros de países
doadores e 50% de representantes de países onde as doenças
tropicais são endêmicas - realiza uma análise
em profundidade do Programa, com sugestões de mudanças
e aperfeiçoamentos", explica. A comissão de 1998
orientou as mudanças estratégicas introduzidas no
TDR.
Doenças Tropicais no Brasil
Entre as doenças tropicais presentes no Brasil estão
a dengue, a febre amarela, a leishmaniose, a doença
de Chagas, a febre maculosa, a esquistossomose e a malária.
A dengue, ao contrário das demais endemias, apresenta-se
num quadro crescente devido ao processo de urbanização
sem planejamento que o país tem observado. O número
de casos nacionais aumentou de 47.370, em 1988, para 370.120,
em 2001. O país também tem o maior número
de casos de malária do continente americano e é
o terceiro lugar do mundo em incidência da doença,
com cerca de 300 mil casos por ano. Já a esquistossomose
deixou de ser tão expressiva, graças a diminuição
dos custos da medicação específica e
melhora em sua eficácia, mas a área de transmissão
da doença continua em expansão, atingindo todos
os estados brasileiros. Atualmente, existem cerca de 350 mil
casos de leishmaniose no Brasil e a tendência é
aumentar, já que o controle dessa endemia é
difícil e seu tratamento bastante complicado e pouco
eficaz.
Informações
retiradas do livro "Histórias da Pesquisa no Brasil",
Imprensa Oficial, 2003 e da revista Ciência e Cultura
- Endemias.
|