Geoprocessamento auxilia o combate à leishmaniose
O Município
de Macaparana, localizado no interior de Pernambuco, pode contar
com mais uma ferramenta para combater as leishmanioses, mais especificamente
a Leishmaniose Tegumentar Americana. Trata-se de um banco de dados
digital, elaborado através de geoprocessamento e que poderá
ser útil para que a prefeitura local combata a doença.
Hernande
Pereira, coordenador do Laboratório de Geoprocessamento e
Sensoriamento Remoto da UFRPE e um dos autores da pesquisa, explica
que o geoprocessamento é um conjunto de técnicas computacionais
relacionadas à coleta, armazenamento, tratamento e manipulação
de informações espaciais e não espaciais. Estas
técnicas podem ser usadas para vários fins, entre
eles, para o estudo da distribuição geográfica
de enfermidades.
"A
espacialização da informação é
uma técnica bastante utilizada na análise de um problema
ou situação, pois proporciona ao analista ou especialista
uma visão "holística" dos dados conferindo-lhe
um entendimento mais aprofundado do problema e, assim, encontra
soluções que sejam coerentes com o perfil do problema
ou situação. No caso do estudo da leishmaniose no
Município de Macaparana, este conceito foi satisfatoriamente
aplicado" comenta o pesquisador, evidenciando as vantagens
do uso do geoprocessamento que permite que muitas informações
diferentes como posição geográfica do município,
número de habitantes, paisagem natural, número de
doentes infectados, e muitas outras, sejam utilizadas para traçar
um panorama detalhado que pode ser muito útil para reduzir
a incidência da doença.
Foram
realizadas pesquisas bibliográficas e documentais em órgãos
públicos, trabalhos de campo e pesquisa censitária
aplicada em pessoas contaminadas. Os dados foram utilizados para
construir um banco de dados digital. Os dados sobre a ocorrência
de leishmaniose em Macaparana foram obtidos através da Secretaria
de Educação e Secretaria de Saúde do município
durante o período de 1999 à 2002.
"O
município de Macaparana foi escolhido pela sua posição
geográfica e representativa da região da Zona da Mata
de Pernambuco e pela acessibilidade aos dados necessários
ao banco de dados", justifica Pereira. Macaparana situa-se
na Região da Mata Setentrional do estado de Pernambuco, ocupa
uma área de 135 Km2, possui cerca de 22.494 habitantes, segundo
dados de 1996, e a atividade rural tem grande importância
para a economia local.
O
pesquisador conta que com o banco de dados digital é possível
fazer consultas e cruzamentos de dados para gerar novas informações,
o que agiliza a análise de situações e a tomada
de decisões. A reunião das informações
para o banco de dados também foram utilizadas para traçar
o perfil da leishmaniose no município pernambucano. Os pesquisadores
notaram, por exemplo, que a Leishmaniose Tegumentar Americana está
presente em todos os anos de estudo, de 1999 à 2002. Além
disso, a maior incidência ocorre nas faixas etárias
de 10 a 19 anos e de 30 a 49 anos e a maioria dos contaminados trabalha
no campo.
O
estudo já foi finalizado, mas o banco de dados ainda será
alimentado com outras informações que indicarão
formas ainda mais eficazes de combate à doença. Os
pesquisadores estão repassando os resultados á prefeitura
do município com a esperança de que seja útil
para erradicar a doença na região.
A
Leishmaniose
Estima-se que as leishmanioses atinjam cerca de 1,5 milhão
de pessoas por ano. Hoje, cerca de 12 milhões de pessoas
apresentam alguma forma desta enfermidade. Especialistas são
pessimistas com relação ao controle da doença
no país, mesmo à longo prazo. No Brasil, uma
das formas de leishmaniose que mais tem aumentado nos últimos
anos é a Leishmaniose Visceral, potencialmente mortal.
As leishmanioses tegumentares, como a que ocorre em Macaparana,
não são letais, mas dependendo do tipo podem
causar feridas, muitas vezes extensas, nos lábios,
palato, nariz e orelhas. Existem cerca de 18 espécies
diferentes de protozoários do gênero Leishmania,
que causam diferentes tipos da enfermidade. Animais silvestres
ou domésticos transmitem a leishmaniose para o homem
através da picada de mosquito do gênero Lutzomya.
As vacinas disponíveis até o momento, ainda
não tem eficiência comprovada, o que é
um agravante para o combate da endemia leishmaniótica
no Brasil. No caso da Leishmaniose Tegumentar Americana, o
tratamento é baseado em drogas que, por serem tóxicas,
acabam provocando inúmeros efeitos colaterais e exigem
acompanhamento médico.
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