Grupo teatral leva aos palcos de Curitiba histórias de
moradores de rua
O grupo Matula Teatro apresenta em Curitiba, nos dias 24 e 25 de
março, o espetáculo "Versão Vida Cruel",
na mostra Fringe do 13º Festival de Teatro de Curitiba. O espetáculo
é parte do resultado das oficinas teatrais que o grupo (que
desenvolve o projeto de extensão universitária da
Unicamp "Arte e Exclusão Social") organiza com
moradores de rua na Casa dos Amigos de São Francisco de Assis,
entidade assistencial situada no centro da cidade de Campinas (SP).
As oficinas visam colaborar com a conscientização
e a auto-estima dos moradores de rua, além de fornecer dados
para pesquisas e montagem de espetáculos teatrais. O trabalho
está sendo realizado desde 2000 e está associado a
duas iniciações científicas e três pesquisas
de pós-graduação.
Grupo Matula teatro encena "Versão vida Cruel"
no centro de Campinas.
Crédito: João Roberto Simioni
Segundo Melissa Lopes, atriz e integrante do grupo, "Versão
Vida Cruel" é um espetáculo de rua que resultou
da análise do registro de canções, gestos,
imagens e histórias características de pessoas usualmente
definidas como mendigos. "Retratamos um grupo de artistas errantes
que apresentam seus números artísticos nas ruas de
uma cidade qualquer", afirma.
De acordo com a atriz, o projeto de extensão, além
resultar em peças para o público em geral, consiste
em uma espécie de laboratório de investigação
artística: o trabalho desenvolvido na Casa dos Amigos de
São Francisco envolveu a pesquisa de diversas linguagens
artísticas, como música e literatura. Foram pesquisadas
também metodologias, como a do Teatro do Oprimido, desenvolvida
por Augusto Boal, e da Mímeses Corpórea, desenvolvida
pelo Núcleo Interdisciplinar de pesquisas teatrais da Unicamp.
Integrantes do grupo também utilizam o material para pesquisas
de pós-graduação, como é o caso do ator
e mestrando do Instituto de Artes da Unicamp, Eduardo Okamoto. "Comecei
a pesquisa na iniciação científica analisando
a utilização da metodologia de Mímeses Corpórea
para a construção de personagens de rua", afirma.
A metodologia consiste em identificar elementos poéticos
nas figuras que vivem na rua e procurar retratá-las em personagens
de um espetáculo teatral. Este processo resultou na criação
do espetáculo "Vizinhos do Fundo", já encenado
pelo grupo, e no atual "Versão Vida Cruel". Atualmente,
Okamoto utiliza a pesquisa já realizada como parte do fundamento
teórico para a elaboração de sua dissertação
de mestrado, que envolve a montagem de um espetáculo solo.
Já Melissa Lopes desenvolve sua pesquisa de mestrado a partir
do personagem que criou e que faz parte do elenco das duas peças.
A atriz investiga possibilidades de inserção do mesmo
personagem em outros ambientes teatrais. Nesse processo, o personagem
pode sofrer mudanças ou manter suas características,
o que poderia caracterizá-lo como um "tipo teatral".
Lopes também usa como contraponto os tipos teatrais da "Commedia
dell'Arte" (proposta teatral desenvolvida na Itália
no início do Mercantilismo), que envolve também personagens
que viviam na rua.
Segundo os atores, o Festival de Curitiba é um dos maiores
e mais conceituados do Brasil e representa uma ótima oportunidade
de intercâmbio com outros grupos que estarão se apresentando,
além de ser uma grande vitrine para divulgação
do trabalho do grupo. O Matula Teatro participará também
da Mostra de Teatro Contemporâneo do Festival, encenando o
espetáculo "Mister K e os artistas da fome", juntamente
com o grupo "Boa Companhia". Ambos os espetáculos
contam com a direção de Verônica Fabrini, professora
da Faculdade de Artes Cênicas da Unicamp.
Segundo os integrantes do grupo Matula, o projeto de extensão
com a Unicamp ainda não foi renovado, devido ao fato de a
universidade estar implementando uma nova política de financiamento
de projetos de extensão por meio de bolsas. No entanto, não
foi estabelecido um prazo para a implementação dessa
nova política.
Mais informações sobre o espetáculo podem ser
obtidas no site do
Festival de Teatro de Curitiba