Indústria química é obrigada a lidar com
questões ambientais
Está tramitando no parlamento da União Européia,
um conjunto de propostas relativas ao Registro, Avaliação,
Autorização e Restrição de Produtos
Químicos (Reach), que deverá ser votado no segundo
semestre deste ano, regulamentando principalmente as substâncias
químicas colocadas no mercado antes de setembro de 1981 e
que representam 99% do total de produtos no mercado hoje. Algumas
delas, como os Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), deverão
ser substituídas num período de 12 anos.
Segundo
Marta Laudares, gerente adjunta do departamento de assuntos técnicos
da Associação Brasileira da Indústria Química,
a medida exigirá mudanças em todas as cadeias produtivas
nas quais esta indústria está envolvida, pois requisitará
testes de substâncias químicas que são utilizadas
em tintas, plásticos, medicamentos, entre outros produtos.
Em algumas situações, essas substâncias terão
que ser substituídas, o que poderá gerar inovações.
Laudares
diz também que quando o Reach estava sendo elaborado, governo
e empresas norte-americanas consideraram que a aprovação
dessas normas acarretariam em perdas de cerca de US$ 8 bilhões
em produtos exportados. Para a França, o prejuízo
maior seria para as pequenas empresas que não teriam condições
de realizar os testes que o Reach deverá exigir, por serem
muito custosos.
Para
Marco Fábio Polli, engenheiro químico, que defendeu
sua tese de doutorado sobre a
a substituição dos CFCs (Cloro-flúor-carbonos)
no final de fevereiro, no Instituto de Geociências da Unicamp,
medidas com interesses ambientais como esta podem gerar restrições,
mas também oportunidades para o setor, trazendo inovações
e competitividade em alguns casos.
O
tema do qual ele tratou em seu trabalho, no entanto, é um
caso em que isso é "problemático", uma vez
que a necessária substituição dos CFCs alterou
uma linha de produtos praticamente 'madura', promoveu inovações
menores e criou um novo ambiente competitivo para as firmas, mas
não apresentou vantagens técnicas para os usuários.
O preço dos hidroclorofluorcarbonos (HCFCs) e hidrofluorcarbonos
(HFCs) é mais alto e, segundo ele, "não houve
uma volta da competitividade ou da inovação em termos
gerais, que deveria pressupor uma melhora no desempenho ou no preço".
Criados
no fim da década de 20, os clorofluorcarbonos tiveram rápida
expansão no mercado por oferecerem maior segurança
- não inflamáveis e não tóxicos - para
fluidos usados na crescente indústria de refrigeração.
No entanto, nos anos 70 surgiram estudos científicos que
passaram a associar os CFCs à destruição da
camada de ozônio. Assim, em 1987, com a assinatura do Protocolo
de Montreal, o uso dos CFCs foi proibido, sendo substituídos,
principalmente, por HCFC e HFCs.
O
engenheiro químico reforça que o processo de substituir
os CFCs foi complexo e custoso e que apesar dos esforços,
é difícil avaliar os resultados de tal medida. Porém
acredita-se que é preciso trabalhar dentro do princípio
de precaução. Sempre que houver a dúvida, será
necessário tentar prevenir danos maiores para o meio ambiente.
É
exatamente essa a intenção da Comissão Européia
em relação ao Reach e até agora, mesmo sabendo
que as prováveis mudanças poderão gerar uma
redução nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
Laudares acredita que a longo prazo algumas inovações
poderão ser geradas, mesmo que incrementais, como no caso
dos CFCs, devolvendo ao setor a competitividade que tem sido uma
de suas marcas. Mas desta vez, com maiores cuidados em relação
à saúde da população e do meio ambiente
como um todo.
Ao
fim de maio, a gerente adjunta da Abiquim informa que deverá
haver novidades em relação ao Reach, uma vez que será
realizada uma conferência mundial para discutir regulamentação
de substâncias químicas e no evento, um dia será
reservado para a discussão sobre as novas regras que nortearão
o setor.