Nova legislação sobre remanescentes de quilombos 
              é posta em prática
              
              
            Morro 
              Alto, localizada no município de Maquiné (RS) é 
              a primeira comunidade negra rural a receber uma certidão 
              de autoreconhecimento como comunidade remanescente de quilombos. 
              A partir da portaria publicada pela Fundação Cultural 
              Palmares no dia 4 de março, o novo critério para o 
              reconhecimento de uma comunidade enquanto remanescente de quilombos 
              é a autoidentificação da própria comunidade 
              enquanto tal.
            A 
              portaria, que institui o Cadastro Geral de Remanescentes das Comunidades 
              de Quilombos e visa regulamentar um dos dispositivos instituídos 
              pelo Decreto n.º 4887 (de 20 de novembro de 2003), afirma no 
              artigo 2º que consideram-se remanescentes de quilombos "os 
              grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, 
              com trajetória histórica própria, dotados de 
              relações territoriais específicas, com presunção 
              de ancestralidade negra relacionada com a resistência à 
              opressão histórica sofrida".
            Basta, 
              portanto, que uma comunidade se declare como remanescente de quilombos 
              para ser reconhecida, não sendo mais necessária, a 
              princípio, a realização de laudos 
              antropológicos para a identificação. Os 
              laudos só serão necessários nos casos em que 
              a autoidentificação da comunidade for questionada 
              juridicamente, em situações de conflito. Esta nova 
              modalidade de reconhecimento permitiria agilizar o processo de titulação 
              das terras remanescentes de quilombos. 
            Segundo 
              José Roberto Camargo de Souza, advogado consultor da Fundação 
              Cultural Palmares - órgão vinculado ao Ministério 
              da Cultura - a fundação ainda não possui um 
              levantamento preciso sobre as comunidades que requisitaram o cadastro 
              de reconhecimento, porque a preocupação da fundação, 
              no momento, é divulgar a nova legislação. Para 
              tanto, funcionários do órgão estão viajando 
              pelo país e visitando as comunidades. A estimativa é 
              de que existam cerca de 2 mil grupos remanescentes de quilombos 
              no Brasil.
            O 
              cadastro na Fundação Palmares para a obtenção 
              da certidão de reconhecimento como comunidade remanescente 
              de quilombo deve ser feito por meio de um representante legal da 
              associação na qual a comunidade esteja organizada 
              ou, na ausência deste, por cinco membros da comunidade declarante. 
              No processo de reconhecimento existe a possibilidade da comunidade 
              não estar organizada em uma associação, mas 
              no que se refere ao passo seguinte - a titulação das 
              terras - a existência de uma associação comunitária 
              se torna imprescindível. 
            A 
              garantia da propriedade coletiva da terra, que também faz 
              parte da nova legislação, e que prevê a outorga 
              de título coletivo e pró-indiviso às comunidades, 
              estabelece que o registro em cartório só será 
              feito em nome de uma associação representativa da 
              comunidade. Neste sentido, a nova legislação estimula 
              o associativismo e a maior articulação política 
              das comunidades. De acordo com Camargo de Souza, "o título 
              é comunitário e só será dado em nome 
              da associação. No decorrer do processo de titulação, 
              que demora, no mínimo, seis meses, a associação 
              poderá ser criada pelas lideranças da comunidade."
              A participação do Instituto Nacional de Colonização 
              e Reforma Agrária (Incra) no processo de demarcação 
              e titulação das terras de quilombo também é 
              novidade que permitiria acelerar o processo.