Os mecanismos neurológicos da empatia
O que antes era explicado a partir de complexas relações
entre o indivíduo e o meio que o cerca, hoje está
sendo compreendido a partir das estruturas cerebrais. O fenômeno
da "empatia" - a capacidade de se colocar no lugar dos
outros e sentir o que eles devem estar sentindo - foi o objeto de
um estudo publicado na revista científica Science,
em 20 de fevereiro.
Tania Singer e seus colaboradores do Instituto de Neurologia do
University College de Londres, na Inglaterra, mostraram com
o auxílio de um aparelho de ressonância magnética
funcional o que acontecia no cérebro de 16 mulheres enquanto
seus maridos, sentados ao lado, recebiam um choque elétrico
doloroso nas mãos. As regiões cerebrais envolvidas
com a sensação subjetiva da dor - o córtex
insular anterior e o córtex cingulado anterior, por exemplo
- aumentavam sua atividade no cérebro das esposas como se
o choque tivesse sido aplicado nelas mesmas. Já as regiões
que sinalizam a sensação de dor física objetiva
- como córtex insular posterior - só eram estimuladas
quando a mão delas de fato recebia o choque.
O estudo foi elogiado pela neuropsiquiatra Helen Mayberg, da Universidade
Emory, em Atlanta, nos EUA . Segundo ela, os pesquisadores conseguiram
captar tanto os aspectos sensoriais quanto os emocionais envolvidos
no fenômeno da dor, tendo fornecido novas concepções
sobre a forma como ambos interagem.
Os achados de Singer e colegas vão de encontro à chamada
Teoria da Mente, que investiga a habilidade que as pessoas tem,
desde a infância, de compreenderem seus próprios estados
mentais e os dos outros, o que torna possível predizer suas
ações ou comportamentos.
Não é de hoje que o assunto vem despertando o interesse
de cientistas das mais diversas áreas de pesquisa. Em fins
da década de 70, começaram a surgir muitos estudos
experimentais sobre a cognição animal. Premack e Woodruff,
em 1978, apresentaram o famoso artigo "Os chimpanzés
têm uma teoria da mente?", no qual avaliaram a capacidade
de chimpanzés em atribuir estados mentais a si próprios
e aos outros. Eles tentaram mostrar que os chimpanzés poderiam
interpretar a intenção do comportamento de um ator
humano. Apesar de não conclusivo, este estudo provocou a
curiosidade sobre o que significa possuir uma concepção
da mente de outra criatura e sobre as conseqüências dessa
concepção.
Hoje, estudos como o da Singer, mostram os fundamentos neurológicos
dessas hipóteses.