Caatinga abriga rica biodiversidade
A
primeira síntese das pesquisas já efetuadas sobre
a Caatinga acaba de virar um livro. A obra - Ecologia e Conservação
da Caatinga - escrita por 33 pesquisadores, em 800 páginas,
conta boa parte do que se conhece sobre este bioma ainda pouco estudado.
Um dos coordenadores do livro, Marcelo Tabarelli, também
pesquisador do Departamento de Botânica da Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE), explica que a idéia da publicação
é a de derrubar alguns mitos existentes sobre esse bioma.
"O maior deles é aquele que diz que a Caatinga é
pobre em biodiversidade" afirma.
A
publicação está sendo distribuída para
as instituições de ensino superior e de pesquisa,
está didaticamente disposta em quatro grandes seções.
As duas primeiras tratam das pesquisas feitas avaliando-se a distribuição
geográfica de vários grupos biológicos que
incluem aves, mamíferos e répteis, em escala regional
e local. A terceira seção descreve os processos ecológicos,
ou seja, como ocorre a dispersão de sementes e a polimerização
das plantas no interior da Caatinga. Finalmente, a última
parte sintetiza mais de 60 recomendações sobre vários
aspectos de políticas públicas, como de educação
ambiental, monitoramento, unidades de conservação,
integração institucional e investimentos em Ciência
& Tecnologia. Estas informações foram condensadas
pelos coordenadores do livro Marcelo Tabarelli e José Maria
Cardoso da Silva, após um workshop organizado pelo
Ministério do Meio Ambiente, em 2000, para se definir as
áreas prioritárias para a conservação
biológica da Caatinga. Cardoso é também diretor
da Conservation International para a Amazônia, uma
importante organização não governamental (ONG)
para defesa da biodiversidade.
A
Caatinga é um bioma formado por um mosaico vegetacional composto
por uma região grande de floresta seca com manchas de vegetação
dominadas por arbustos além de algumas áreas de floresta
úmida, com entradas de Mata Atlântica. Esse mosaico,
na opinião de Tabarelli é o que torna a biodiversidade
tão alta na Caatinga, quando comparada com outras florestas
secas. No entanto, a paisagem mais divulgada é aquela durante
a seca.
Os
pesquisadores estimam que existam na Caatinga aproximadamente 900
espécies de plantas, 240 de peixes, 143 de mamíferos,
183 de abelhas e algo em torno de 510 aves diferentes. "É
claro que estes números, quando comparados aos da Amazônia
- que é uma floresta úmida - mostram uma riqueza biológica
muito menor. Mas para uma floresta seca, quase uma savana, como
é o caso da Caatinga, estes números são bastante
razoáveis", diz o pesquisador de Pernambuco. Para mostrar
que a biodiversidade encontrada não é pequena, Tabarelli
compara o número de espécies de aves da Caatinga com
os da Mata Atlântica. "São 510 aves na Caatinga
e 620 na Floresta Atlântica; entretanto a área da Floresta
Atlântica é cerca de duas vezes maior que a da Caatinga",
finaliza.
Ao
contrário do que se acreditava, a Caatinga conta com oito
rotas migratórias que permitem o intercâmbio biológico
com outros biomas na América Central e na América
do Sul - como o Cerrado, a Mata Atlântica e a Amazônia
-. A pesquisa que levou a esta descoberta está sintetizada
no primeiro capítulo do livro, escrito por Dárian
Prado, especialista em Caatinga e florestas secas da Universidade
Nacional do Rosário, na Argentina.
Dos biomas conhecidos na América do Sul e Central, a Caatinga
é o menos estudado. O mito que se criou de que a mesma é
um bioma de baixa biodiversidade, na opinião de Tabarelli,
acaba servindo de desculpa para os baixos investimentos feitos em
pesquisa na região e para a sua destruição:
"A falta de informação e sua destruição
parecem caminhar juntas, uma reforçando a outra", diz.
Além disso, o fato da região ainda não ter
um bom museu de história natural e um baixo investimento
em pesquisa e divulgação científica, se comparado
com a de outros ecossistemas brasileiros - como a Mata Atlântica,
Amazônia, Pantanal e Cerrado - na opinião do próprio
pesquisador, complementam estes falsos mitos que se construíram
sobre a Caatinga.
De
acordo com o Ibama, a Caatinga atualmente encontra-se bastante alterada,
pela substituição de espécies vegetais nativas
por cultivos e pastagens. Aproximadamente 80% dos ecossistemas originais
já foram modificados pelo homem.