Descoberto composto que atua na formação de nuvens
na Amazônia
O sistema
climático da Amazônia e seu sistema de chuvas são
ainda poucos conhecidos, mas cientistas brasileiros do Experimento
de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA) deram
um passo importante na compreensão dos mecanismos de condensação
de nuvens na região.
A
equipe, coordenada por Paulo Artaxo, do Instituto de Física
da USP, descobriu novos compostos químicos que fazem a ponte
entre as emissões de origem biológica da floresta
e o clima amazônico. O resultado, publicado na edição
da revista Science de 20 de fevereiro, ajuda a compreender a origem
dos núcleos de condensação de nuvens na atmosfera
amazônica.
Partículas
sólidas ou líquidas em suspensão em um gás
são chamadas de aerossóis, e agem como núcleos
de condensação de nuvens. Para que uma nuvem se forme
é preciso pelo menos dois ingredientes: vapor de água
e uma partícula de aerossol. A vegetação terrestre
emite compostos orgânicos voláteis (VCOs, em inglês),
chamados terpenos, que oxidados pela luz do sol produzem aerossóis.
A Bacia Amazônica é o maior ecossistema úmido
do planeta e ainda está localizada na região de maior
incidência da luz solar, assim a formação de
aerossóis pela foto-oxidação dos VCOs é
significativa. Entretanto, quando os pesquisadores mediam a concentração
destas partículas, o resultado ficava abaixo do esperado:
faltava algum composto químico orgânico que pudesse
fechar o balanço do número de partículas necessárias
para a produção de nuvens. A descoberta do "2-methylthreitol"
(C5H7O4), um novo composto químico na fase de aerossol, auxilia
no fechamento desta importante questão.
A
vegetação amazônica emite um gás chamado
isopreno. O "2-methylthreitol" é produto de oxidação
fotoquímica de isopreno, que até o momento não
era considerado como produtor de partículas de aerossóis.
Agora se sabe que não só ele forma partículas
em quantidades significativas, mas também pode ser a ligação
entre o funcionamento ecológico da floresta e o clima na
Amazônia.
"Um
passo importante na elucidação dos mecanismos de controle
climático pela floresta foi dado por esta descoberta. Muitas
surpresas sobre o funcionamento do ecossistema Amazônico ainda
estão por vir", afirma Artaxo. E completa: "para
poder desenvolver um sistema sustentável de exploração
da Floresta Amazônica, é necessário conhecer
seu funcionamento básico, tarefa que o experimento LBA e
o Instituto do Milênio do LBA estão realizando".
O
Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia
(LBA) é
uma iniciativa internacional liderada pelo Brasil, cujo objetivo
é entender o funcionamento climatológico, ecológico,
biogeoquímico e hidrológico da Amazônia, o impacto
das mudanças no uso da terra nesses funcionamentos e as interações
entre a Amazônia e o sistema biogeofísico global da
terra.