Instituições amazônicas unem forças
contra biopirataria
Estão
prontos os projetos de capacitação de recursos humanos
da Rede Norte de Propriedade Intelectual, Biodiversidade e Conhecimentos
Tradicionais, a mais recente iniciativa de combate à biopirataria
na Amazônia. A Rede, que reúne instituições
de pesquisa e ensino, e órgãos públicos e privados,
além de organizações civis em torno da questão,
iniciará sua atuação focando a maior carência
para qualquer iniciativa na região amazônica: os recursos
humanos.
Os
projetos de capacitação serão direcionados
a formar especialistas em regulamentação e legislação
sobre propriedade intelectual e acesso à biodiversidade.
Segundo Eliane Moreira, Coordenadora do Núcleo de Propriedade
Intelectual do Centro de Ensino Superior do Pará (Cesupa)
e uma das articuladoras da Rede, mais de 70 pesquisadores já
participam ativamente na iniciativa.
A
proposta é, entre outras coisas, fortificar campanhas contra
a biopirataria, como a realizada pelas organizações
não-governamentais Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)
e Amazonlink.org contra a patente do cupuaçu pela empresa
japonesa Asahi Foods Co.
"O
principal objetivo da Rede é a inclusão dos diversos
atores amazônicos nesse novo cenário mundial de revolução
biotecnológica. A Amazônia não deve ser somente
provedora dos recursos naturais, mas participantes e beneficiárias
do processo de aproveitamento desses produtos", comenta Moreira.
Além
da formação de recursos humanos, as atividades estão
centradas em mais cinco eixos: gestão e proteção
da propriedade intelectual, da biodiversidade e dos conhecimentos
tradicionais; transferência de tecnologia; difusão
da cultura de propriedade intelectual; apoio aos núcleos
institucionais de propriedade intelectual; e captação
e gestão de recursos financeiros.
A
carta de intenções para a criação da
Rede foi apresentada em setembro de 2003 pelo Cesupa em parceria
com o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), durante o seminário
"Saber Local, Interesse Global: Propriedade Intelectual, Biodiversidade
e Conhecimento Tradicional na Amazônia". No segundo semestre
de 2004, acontecerá o primeiro encontro oficial da Rede,
provavelmente em Manaus, Amazonas.
Eliane
Moreira acredita que as articulações entre as instituições
e organizações estaduais já estão bem
adiantadas, mas as parcerias com órgãos não-institucionais,
como movimentos sociais, são mais difíceis. Durante
o 3º Fórum Social Pan-Amazônico (FSPA), realizado
entre os últimos dias 4 e 8, na Venezuela, a Rede teve sua
primeira oportunidade de fazer contatos com movimentos sociais,
além de abrir novas expectativas de expandir a iniciativa
para outros países da região amazônica.
Para
Luís Antônio Costa, um dos coordenadores do FSPA, o
evento foi um momento privilegiado de articulação
da Rede Norte. Somente durante a abertura do evento, participaram
mais de dez mil pessoas de sete países amazônicos e
mais Suriname, República Cooperativa da Guiana, Cuba e País
Basco. "A fiscalização contra a biopirataria
é muito frágil nos portos e aeroportos na Amazônia.
Nem todos são fiscalizados e o que se vê são
cartazes de advertência", comenta.
Um
dos principais focos das discussões do FSPA foi a influência
das políticas dos países desenvolvidos sobre a região.
No segmento da biopirataria, conforme explica Costa, os centros
capitalistas podem influenciar negativamente no momento em que reconhecem
patentes totalmente falaciosas. "Uma forma desses centros ajudarem
no combate à biopirataria seria o estabelecimento de políticas
mais claras e intensas contra o desenvolvimento de produtos com
matéria-prima de origem ilegal ou duvidosa, como o caso da
madeira e da coca", conclui.